Data de publicação: 05-11-2019 14:00:00 - Última alteração: 05-11-2019 13:10:21

Sobre amizades e diferenças

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
Foto: Internet/Reprodução
 
Rui Miguel*
 
Ninguém sabe a que podem levar os acontecimentos, a compaixão, a indignação, ninguém conhece o seu grau de inflamabilidade. Pequenas circunstâncias miseráveis o tornam miserável; geralmente, não é a qualidade, mas a quantidade das vivências que determina o homem baixo ou elevado, no bem e no mal.
 
Nietzsche
 
Graças ao universo ou ao ser superior que é de sua crença, nós somos pessoas de personalidades diferentes. Somos, ao mesmo tempo, tão parecidos e tão complexos ao ponto de não conseguirmos entender o próximo.
 
Cada um tem sua particularidade, sua excentricidade. Cada pessoa possui uma característica que nos afasta ou nos aproxima dela. E é nesse momento que entram o nosso egoísmo e a nossa falta de empatia, seguidos de uma preguiça de amor ao outro.
 
Nossas amizades normalmente são construídas em bases iguais, em sentimentos iguais ou quando as características de uma pessoa são muito parecidas com as nossas. E por que isso é mais atrativo? A resposta: é mais fácil lidarmos com pessoas que apoiam ou concordam com nossos gostos e prazeres do que sabermos lidar com quem tem algumas diferenças que, talvez, não nos agradem.
 
E eu penso: isso não é ótimo?!
 
Temos a tendência de nos aproximarmos de pessoas que são parecidas conosco, porque somos desinteressados em tentar construir uma amizade verdadeira. Somos preguiçosos em tentar entender como lidar com quem é diferente de nós. Somos estúpidos ao ponto de acharmos que certos tipos de comportamento são um motivo para não conhecermos melhor o outro.
 
Não quero falar que você deve ser complacente com as atitudes erradas ou ofensivas de seu próximo, apenas quero que você entenda que quando certo pensamento ou atitude não for condizente com o que você espera que seja uma reação normal, você não deve julgar, afastar nem condenar.
 
Apenas releve.
 
Somos pessoas diferentes. O modo como eu lido com as minhas amizades, quer eu seja frio ou calculista – pois há momentos em que estou bem e, no outro dia, nem tanto –, não quer dizer que eu não as ame com intensidade e força, ou que não necessite delas ao meu lado, mesmo que eu não demonstre isso.
 
Por isso é tão importante cultivarmos nossas amizades, e essa palavra – “cultivar” – significa dedicar-se, interessar-se, envolver-se. Isso leva tempo. Temos livre arbítrio e escolhemos a amizade que queremos, mas somos tão pobres em espíritos e tão insignificantes moralmente falando que não percebemos que as diferenças de personalidades (e talvez sejam apenas algumas características que você não goste) são o que nos fazem crescer. É isso que nos faz melhores. É o que nos dá motivos para sermos liderados, influenciados, corrigidos e para enraizarmos a nossa essência do amor.
 
Em vez de fugirmos de amizades que serão muito significantes para nós por causa de um defeito que se apresenta, por que não aprendemos a lidar com o próximo?
 
Não adianta. Vou repetir: ninguém muda. Então, não pense que sua influência mudará a pessoa. Isso não vai acontecer. Aprenda a lidar com os problemas ou defeitos do outro e foque em aproveitar o que ele tem de bom. Todos nós temos nossos defeitos, erros e esquisitices que talvez apenas nós mesmos compreendamos e que não fazemos questão de explicar ou justificar, porque são coisas nossas, do íntimo.
 
Se todos andassem iguais, em atitudes e pensamentos, quais seriam as chances de evoluirmos externa e internamente?
 
Se você conhecesse Bill Gates, Steve Jobs, Elvis Presley ou Michael Jackson em plena era criativa deles, muito provavelmente falaria que eram loucos, que precisariam de tratamento psiquiátrico, pois as atitudes ou pensamentos – e também as excentricidades – poderiam não condizer com o padrão em que você ou qualquer outra pessoa que se intitula “normal” se encaixava. E essas e outras pessoas foram lendas e mitos porque se destacaram, porque foram os “dementes” na multidão. Pensaram o que nunca ninguém tinha pensado, agiram sem pensar, foram de certo modo inconsequentes, não se deixaram ser guiadas por pensamentos rotineiros e vazios. São pessoas que fizeram a diferença.
 
Não se apequene, não seja covarde, não deixe que digam que você não pode. Aja diferente, seja diferente, viva a sua vida da melhor maneira possível, persista em fazer o bem, não se acostume com coisas ruins, não seja insensível, diga sim às mudanças, reinvente-se, saia da rotina, ame sem limites, chore, grite e, se depois de tudo isso as pessoas apontarem o dedo para você e disserem que você é louco, simplesmente aceite.
 
Apenas a loucura de nossa existência nos permitirá vivermos e sermos pessoas melhores, e por sabermos que toda a unanimidade é burra, temos que ser loucos para podermos compreender, ter e sentir a verdadeira felicidade que nos dá vida. Ela nos mostra o quanto é insensatamente certa e veraz a nossa loucura, e o quanto é verdadeira a insanidade do amor.
 
*Rui Miguel cresceu em Contagem. É formado em engenharia de rede de computadores e especialista Microsoft. Tímido e paradoxalmente extrovertido. Misterioso e intrigante, mas com um senso de humor incrivelmente inteligente e sarcástico. Em 2007, teve os primeiros sintomas do Parkinson e, depois de seis meses, o diagnóstico foi confirmado. É autor do livro “Entrando no parkinson de diversões” e, em 2017, foi nomeado comendador e profissional do ano com o blog que fala sobre “como viver a vida e não apenas sobreviver”. Também possui um canal no YouTube onde trata do mesmo assunto.
 
(O conteúdo dos artigos publicados pelo Diário de Contagem é de responsabilidade dos respectivos autores e não expressa a opinião do jornal.)
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