Data de publicação: 18-12-2019 16:27:00

Por que é mais forte quem sabe mentir?

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
Foto: Internet/Reprodução
 
Rui Miguel*
 
“As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha.”
Adolf Hitler
 
Ninguém está preparado para ouvir todas as verdades sinceras. Imagina se você fosse cumprir o que as pessoas querem de você ao dizerem: “eu gosto de pessoas sinceras. Seja sincero comigo sempre e terá uma amizade verdadeira”.
 
Amados, todo mundo mente e ninguém muda. Por mais que você não concorde, essa é uma verdade imutável.
 
Quando as pessoas nos pedem encarecidamente para que sejamos sinceros e verdadeiros, e para nunca, em hipótese nenhuma, proferirmos uma mentira, elas não sabem o monstro que estão criando. Ninguém suportaria viver num mundo em que todos fossem sinceros. E quando eu falo em sinceridade é ser verdadeiro com tudo, desde as mínimas até as coisas mais grotescas.
 
O motivo disso é que quando prometemos a alguém sermos sinceros, pensamos apenas em não esconder grandes mentiras, em falar sempre o que deve ser falado quando for solicitado. Quero dizer: você se fixa somente em situações grandes, que possam gerar desconforto. Mas e as coisas pequenas, ínfimas que você diariamente faz e fala para agradar ou desagradar alguém. Ou as coisas que você ouve e concorda mesmo sendo contra, para ser aceito em determinada “tribo”?
 
Vamos a um exemplo: você vai visitar uma amiga que acabou de ganhar um bebê. Na casa dela, é recepcionado com tanta alegria pela nova mãe que aquilo torna-se contagioso. Quando ela mostra a criança e pergunta: “ela não é linda?!”, e sorri para você esperando uma resposta positiva, você olha para o bebê que parece um joelho, ou um Oompa-Loompa, e responde: “que menino lindo!”.
 
Ótimo, sua amiga está feliz, pois você fez o dia dela assim. Já se imaginou sendo sincero nessa ocasião? Já imaginou se você fosse verdadeiro e falasse o que pensa da beleza natural do filho dela? Já imaginou o desconforto que iria causar? Você sem graça, ela também, aquele silêncio constrangedor. Vocês iriam conversar normalmente, mas a mãe, principalmente, ia ficar com aquela informação na cabeça. No entanto, você evitou tudo isso com três simples palavras: ele é lindo.
 
Você acaba de mentir descaradamente, porque não foi sincero diante da pergunta que ela te fez.
 
Sua mãe, quando você vai visitá-la no fim de semana, faz um almoço especial. Ela fica toda empolgada esperando que você prove o prato ou os quitutes que ela amorosamente cozinhou. Você prova e percebe que o gosto não está bom.
 
Você olha para frente e vê a sua mãe com as duas mãos em sentido de reza esperando uma resposta, um “huuuummmmmm” igual ao da Ana Maria Braga. Você será sincero ao ponto de falar o que realmente achou, que aquilo está com gosto de meia usada, ou vai preferir sair pelo caminho menos descomplicado?
 
Você mentiu.
 
Você está no trabalho e tem que entregar um relatório via Excel para seu chefe até as 17 horas de hoje. Durante o horário de expediente, ao espreguiçar na cadeira, pega o celular e começa a mexer no WhatsApp. Você se distrai e fica uma hora olhando mensagens, porque sabe que o relatório está bem adiantado. Às 16 horas, você sai do aplicativo e vai finalizar o trabalho.
 
No mesmo momento a luz acaba, as máquinas desligam e você fica à mercê do retorno da energia. Em pouco mais de 30 minutos ela volta e você atrasa a entrega do relatório. Quando envia o e-mail para o seu chefe, já as 18 horas, ele imediatamente recebe, se levanta, vai até a sua sala e faz uma pergunta simples: “o combinado não era até as 17 horas?”.
 
Qual seria a sua desculpa sem pensar? É lógico que seria: “a luz acabou e atrapalhou a minha entrega”.
 
Você mentiu de novo. Se você não tivesse ficado uma hora no WhatsApp, teria entregado a tempo. Você fez duas coisas erradas, nesse caso. Roubou a hora do seu patrão fazendo coisas particulares no horário em que ele te paga e, depois, ainda mentiu descaradamente em vez de falar a verdade.
 
São exemplos tolos e toscos, mas deu para salientar o quanto mentimos diariamente para tudo. Para agradar aos outros ou para agradar a nós mesmos. Imagine se em todos esses pequenos exemplos você fosse sincero, ao ponto de falar que está pensando.
 
É isso que nos faz diferentes dos animais. Os sentimentos que demonstramos. Adaptamo-nos para viver em conjunto, mesmo que isso seja complicado. Tudo para não desagradar e não criar conflito.
 
O homem não está pronto para lidar com a verdade o tempo todo. Ninguém está. A verdade nos liberta, mas ainda precisamos estar presos a certas mentiras se quisermos olhar e caminhar para frente.
 
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*Rui Miguel cresceu em Contagem. É formado em engenharia de rede de computadores e especialista Microsoft. Tímido e paradoxalmente extrovertido. Misterioso e intrigante, mas com um senso de humor incrivelmente inteligente e sarcástico. Em 2007, teve os primeiros sintomas do Parkinson e, depois de seis meses, o diagnóstico foi confirmado. É autor do livro “Entrando no parkinson de diversões” e, em 2017, foi nomeado comendador e profissional do ano com o blog que fala sobre “como viver a vida e não apenas sobreviver”. Também possui um canal no YouTube onde trata do mesmo assunto.
 
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