Data de publicação: 04-03-2020 16:57:00

Quem ama não trai

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
Foto: Internet/Reprodução
 
Rui Miguel*
 
“A nossa vaidade gostaria que o que fazemos melhor fosse considerado como aquilo que mais nos custa. Para explicar a origem de certas morais.”
Friedrich Nietzsche
 
Quem ama não trai. Essa frase parece clichê, e realmente é. E de tanto ser clichê ela é verdadeira. Depois de uma traição, muitas pessoas falam que ela foi apenas carnal, meramente química e sem nenhum vínculo afetivo. Que tudo aquilo não significou nada, que o outro foi a terceira pessoa na relação, apenas um objeto. Ela diz que realmente te ama, que com você é totalmente diferente, é amor verdadeiro e não apenas atração. Que com a outra pessoa foi rápido, sem graça, sem nenhum sentido nem significância.
 
Vamos ser sinceros: eu realmente acredito nisso. Às vezes, a atração carnal não quer dizer amor nem cumplicidade, muito menos afeição. Não quer dizer que é significativo, tampouco que envolve algum sentimento. Tudo isso é muito circunstancial.
 
Você se deixou envolver por uma situação que poderia evitar – talvez achando que teria o controle dela. Mas, se você realmente amasse, já teria cortado qualquer movimento suspeito no primeiro ato. E não venha me dizer que você não desconfiava.
 
Você é adulto e toma dezenas de decisões por dia para o seu bem e o de outros. Se nesse caso você não tomou nenhuma, é porque não quis. Ou simplesmente porque você não ama, caso contrário, não faria isso.
 
Quando você ama uma pessoa, você fica triste em magoá-la, o seu dia acaba quando ela te liga chorando por algum problema, e você tem vontade de carregá-la no colo e cuidar dela. Se você possuísse esse sentimento tão singelo, simples e lindo de coração, você não trairia.
 
A verdade é que a atração carnal não é amor, e o desejo não é paixão. A paixão, por mais que seja inflamável, possui uma sequência de sentimentos, mas o desejo da carne é fútil e nos dá uma satisfação mediocremente momentânea.
 
Se você está com uma pessoa porque acha que o amor e a paixão vão durar para sempre, esqueça. A paixão é uma centelha, logo apaga. Então, resta o amor, que, se não for bem cultivado, também acaba, porque é composto de várias ricas, indubitáveis e preciosas características como a base do respeito e da amizade, a cumplicidade e a intimidade, o orgulho e a importância alheia.
 
Então, por mais que eu esteja sendo injusto agora, vou ser justo com as minhas próprias convicções: se o seu companheiro te traiu, não perdoe. Você se arrependerá pelo resto da sua vida.
 
Você diz que o perdão é esquecimento, que o verdadeiro perdão não é taxativamente puro e não tem memória. Não acredito nisso. Por mais que a pessoa mude, se transforme, você sempre será amedrontada por esse fato. Mesmo que você e o seu companheiro nunca mais voltem ao assunto.
 
Você pode até perdoar, mas você nunca vai esquecer. Nunca mais será a mesma coisa. E não tente se enganar. Isso é fato. Ainda que você veja um arrependimento sincero – e eu realmente acredito que ele exista –, a flecha atirada não volta atrás.
 
Também não tenha a ideia de vingança, achando que fazer o mesmo vai te trazer a sensação de não ser passada para trás. Isso só vai piorar.
 
Nada, eu digo nada mais vai mudar as coisas. Então, não perdoe. Perdoar vai fazer você fingir que está feliz e ele vai fingir que acredita no seu ato de enganar a si própria. Porém, os dois saberão que o relacionamento acabou.
 
Se a pessoa te traiu é porque ela quis. Ela não foi obrigada. Se ela agora mostra arrependimento, é porque está com medo de ficar sozinha ou tem preguiça de construir uma família do zero. Então, a opção de ficar com você é meramente conveniente.
 
Contudo, se você quer perdoar e acha que a pessoa merece uma segunda chance, tudo bem, isso é uma decisão pessoal e não há ninguém que possa julgar. Como eu sempre digo: a sua felicidade depende única e exclusivamente de você. Se essa atitude vai deixá-la feliz, excelente, faço-o. Não se importe com a opinião dos outros, da sua família ou mesmo com a minha.
 
Por mais que eu fale, estou fazendo uma avaliação de fora, e não estou envolvido. Quem sou eu para saber o que você está passando ou sentindo. Então, um conselho do conselho é não ouvir ninguém. Apenas você mesma.
 
Você se faz feliz, e isso é independente dos outros. Quando tenta seguir opiniões alheias, você simplesmente deixa de viver. No entanto, uma coisa é certa – aliás, duas coisas são imutáveis:
 
– Ninguém muda.
 
– Quem ama não trai.
 
Sua opinião contrária ou a favor não muda nem mudará a essência dessas afirmações.
 
--
 
*Rui Miguel cresceu em Contagem. É formado em engenharia de rede de computadores e especialista Microsoft. Tímido e paradoxalmente extrovertido. Misterioso e intrigante, mas com um senso de humor incrivelmente inteligente e sarcástico. Em 2007, teve os primeiros sintomas do Parkinson e, depois de seis meses, o diagnóstico foi confirmado. É autor do livro “Entrando no parkinson de diversões” e, em 2017, foi nomeado comendador e profissional do ano com o blog que fala sobre “como viver a vida e não apenas sobreviver” (www.ruimiguel.com.br). Também possui um canal no YouTube onde trata do mesmo assunto.
 
(O conteúdo dos artigos publicados pelo Diário de Contagem é de responsabilidade dos respectivos autores e não expressa a opinião do jornal.)
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