Data de publicação: 17-07-2020 10:00:00 - Última alteração: 17-07-2020 15:11:08

Confie antes de desconfiar

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
Foto: Internet/Reprodução
 
Rui Miguel*
 
“O amor acredita todas as coisas.”
 
Paulo de Tarso
 
Em minha residência, em Belo Horizonte, existe um grande problema: a casa não possui uma área de terra, onde eu pudesse fazer um jardim. E eu, como um apaixonado por terra, decidi inventar. Pensei: já que não tenho terra, vou fazer um jardim suspenso.
 
Então, comprei uns palets a R$ 10 cada e coloquei sobre o cimento dentro de casa. Envernizei-os na cor imbuia. Comprei vários vasos e algumas plantas ornamentais. Coloquei cada qual no seu devido vaso. Alguns de cerâmica, outros de cimento. Coloquei os vasos sobre o palet de madeira envernizado, e, depois, coloquei pedras brancas e de argila em cima da madeira para enfeitar.
 
Pronto! Estava pronto o meu jardim. De muito bom gosto.
 
Mas, com o passar dos dias, eu comecei a notar que a única pessoa que admirava o lindo jardim que eu tinha feito em cima do cimento era eu mesmo. Então, resolvi levar toda essa estrutura para o passeio da minha casa, de frente para a rua principal, que também era todo feito de cimento.
 
À medida que eu ia colocando os palets, as plantas e os ornamentos, os moradores da rua, meus vizinhos, olhavam com admiração e espanto, o que se contrastava com a intrepidez dos lábios que queriam perguntar:
 
– Você não tem medo que roubem seus vasos e plantas, não?
 
Essa pergunta se estendeu por todos os moradores que me encontravam durante o dia ou a noite diante da minha casa e do jardim. Sempre o elogio em primeiro lugar, dizendo que estava lindo, alguns até me davam os parabéns por embelezar a rua, mas logo após vinha a pergunta:
 
– Você não tem medo de ser roubado, não?
 
E para todos eu proferia a mesma resposta:
 
– Até que a vizinhança ou as pessoas desse bairro me provem o contrário, eu confio em todos aqui.
 
Passados alguns meses sem nunca ninguém ter tirado nem uma flor do jardim, ainda apareceu um rapaz bem humilde, que morava a duas quadras da minha casa, e, me vendo arrumar o jardim, me elogiou e me convidou para ir à sua humilde residência para conhecer suas plantas.
 
Eu não conhecia esse vizinho, e, ainda acreditando anda em todas as pessoas, fui com ele. Entrei na casa dele preocupado por não conhecê-lo, mas fui surpreendido mais uma vez pelo ser humano. Ele simplesmente disse o seguinte:
 
– Está vendo este vaso? É o que eu mais gosto. Quero que você coloque em seu jardim. Presente meu.
 
E realmente o vaso era muito bonito. Devido às condições humildes do rapaz, acredito que aquele vaso tenha sido um dispêndio financeiro a se considerar. Imediatamente, eu, um pouco emocionado, disse:
 
– Muito obrigado. Você não sabe o quanto isso é importante pra mim.
 
Aceitei no mesmo instante. Muitos diriam: “Você não deveria ter aceitado”. E várias outras mazelas e falácias que não quero ficar me delongando nelas.
 
Mas aceitei, sim. Nesses momentos você tem que usar a empatia. Imagina se eu estivesse no lugar desse rapaz: levo você na minha casa, onde preparei um presente para te dar, e estou com a ansiedade à flor da pele para saber a sua reação. Se você vai gostar, se vai ficar feliz… E quando você chega à minha casa e eu te dou o presente, você não aceita. Seria para mim uma decepção sem precedentes.
 
Eu vi nos olhos daquele rapaz a alegria que ele sentiu ao me presentear.
 
Devemos ter em mente que todas as decisões que tomamos nas nossas vidas, desde as grandes até as mínimas, fazem diferença a médio e a curto prazo. Dessa vez, não estou falando do efeito de ação e reação, estou falando do “efeito borboleta”.
 
Quando mudamos uma simples e aparentemente inofensiva premissa em nossa forma de pensar ou em valores sobe os quais sempre construímos fundamentos, uma reação em cadeia começa a acontecer de forma invisível, alterando – espero que para melhor – nossos resultados e nossa percepção do mundo.
 
Não estou querendo dizer que boas ações nos livram de problemas. Estou apenas exemplificando, de uma maneira muito lírica, que nossas decisões são importantes para esse complicado, complexo, incompreensível e injusto círculo da vida.
 
Estou romantizando, agora, que tudo o que fazemos e decidimos tem diferença e faz diferença para alguém, seja perto ou longe de você. Quando você muda o rumo da história, você está mudando várias setas da sua caminhada.
 
Então, trabalhe e sirva aos outros sempre com amor, sem esperar recompensas ou gratidão. Não seja generoso e, consequentemente, egoísta. Seja altruísta, e você verá a plena satisfação de poder se engrandecer sem precisar dos aplausos de ninguém. Será muito compensador porque, quando o seu amor se faz grande, isso é eterno. Reconhecimento e fama são passageiros, fugazes e meios para um fim de solidão e de ingratidão.
 
--
 
*Rui Miguel cresceu em Contagem. É formado em engenharia de rede de computadores e especialista Microsoft. Tímido e paradoxalmente extrovertido. Misterioso e intrigante, mas com um senso de humor incrivelmente inteligente e sarcástico. Em 2007, teve os primeiros sintomas do Parkinson e, depois de seis meses, o diagnóstico foi confirmado. É autor do livro “Entrando no parkinson de diversões” e, em 2017, foi nomeado comendador e profissional do ano com o blog que fala sobre “como viver a vida e não apenas sobreviver” (www.ruimiguel.com.br). Também possui um canal no YouTube onde trata do mesmo assunto.
 
(O conteúdo dos artigos publicados pelo Diário de Contagem é de responsabilidade dos respectivos autores e não expressa a opinião do jornal.)
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