Data de publicação: 09-11-2020 16:38:00

Não reviva a decepção dos outros

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
Foto: Reprodução Internet
 
RUI MIGUEL*
 
Você tem medo de engordar por temer que os outros reparem. Você tem um celular caro, mesmo que não use metade das funções dele, porque tem vergonha do que os outros vão pensar. O mesmo acontece quando uma pessoa pobre começa a ganhar dinheiro e muda de status social. Ela muda o linguajar, o modo de se vestir e o jeito de ser para se encaixar naquela classe à qual ela agora pertence.
 
Tudo isso é aceitavelmente normal e não podemos criticar, pois, se tivéssemos a oportunidade, agiríamos do mesmo jeito. Somos engolidos pelo tipo de sistema do qual fazemos parte. É normal, mas não deixa de ser errado.
 
Relaxa! As coisas tornam-se um problema quando você deixa de fazer o que pode e deve por medo do que os outros vão pensar.
 
Seu objetivo é que todos falem bem de você. Quer que todos te amem e te achem a pessoa mais fantástica e simpática que eles conhecem. Precisa dessa afirmação, pois você mesmo não acredita nisso. Mas aprenda uma coisa com a vida: independentemente de como você aja ou do que faça, sempre – eu digo sempre –existirão pessoas que falarão mal de você, que vão te criticar por certas atitudes.
 
Você não aceita isso e se pergunta: “Como ele pode falar isso de mim? Como ele pode ter a petulância de me criticar?”. Nesse momento, na sua cabeça sem personalidade, volúvel e vazia, você resolve aceitar as críticas e tenta agradar essas pessoas fazendo o que elas acham correto. Quando decide fazer isso, você é elogiado, mas, então, surge o dobro de pessoas falando mal de você em virtude daquela sua nova declaração. No fim, você não agradou ninguém e muito menos fez aquilo que gostaria de ter feito.
 
Conhece a história do menino, do velho e do burro? Para quem não conhece, vou contar.
 
Um velho resolveu vender o burro na feira da cidade. Como ia voltar andando, chamou o neto para acompanhá-lo. Montaram os dois no animal e seguiram viagem. Passando por umas barracas de escoteiros, escutaram comentários críticos: “Como é que pode duas pessoas em cima desse pobre animal?!”.
 
Resolveram, então, que o menino desceria e o velho permaneceria montado. Prosseguiram. Mais à frente, havia uma lagoa onde algumas velhas estavam lavando roupas. Quando viram a cena, puseram-se a exclamar: “Que absurdo! Explorando a pobre criança enquanto poderia deixá-la em cima do animal!”.
 
O velho e o menino trocaram suas posições e seguiram o caminho, até que algumas jovens, sentadas na calçada, externaram espanto com o que presenciaram: “Que menino preguiçoso! Enquanto esse velho senhor caminha, ele fica em cima do animal. Tenha vergonha!”.
 
Diante disso, o menino desceu, e, dessa vez, o velho não subiu. Ambos resolveram caminhar, puxando o burro. Acreditavam ter encontrado a fórmula mais correta quando passaram em frente a um bar. Alguns homens que ali estavam começaram a dar gargalhadas, fazendo chacota da cena: “São mesmo uns idiotas! Ficam andando a pé enquanto puxam um animal tão jovem e forte!”.
 
O avô e o neto olharam um para o outro, como que tentando encontrar a maneira certa de agir. Então, ambos pegaram o burro e o carregaram nas costas.
 
Além de divertida, essa fábula mostra que não podemos dedicar uma atenção irracional às críticas, pois elas acontecerão sempre, independentemente da maneira com que procurarmos agir. Sempre vai haver alguém falando mal.
 
Muitas vezes, ouço pessoas que fazem a vida na internet e ganham dinheiro com a exposição deprimidas, tristes e revoltadas por conta de uma crítica impiedosa que receberam em um comentário nas redes sociais. Mesmo que a proporção seja de uma crítica para mil elogios, a pessoa foca naquilo, naquele comentário maldoso e não aceita isso. É que nós, seres egocêntricos, temos que agradar a todos. Não, melhor dizendo, queremos que todos nos venerem, nos aceitem do jeito que somos, e não suportamos receber críticas ou saber que alguém não concorda ou não aceita o que falamos. Queremos que todos aprovem o que fazemos, mas, amigos, isso nunca vai acontecer.
 
Não viva a vida de outros, não pratique atos que os outros querem que você pratique, não tenha uma personalidade fraca, infeliz e inconstante apenas para ser aceito por quem você não conhece.
 
Não deixe que pessoas que você nunca viu digam o que você deve ou não deve fazer. Não deixe que uma pessoa que você não conhece acabe com o seu dia por causa de um comentário. É ridículo. Esse desconhecido estará conseguindo moldar a sua mente sem ao menos te conhecer.
 
Faça tudo o que você achar certo, que vai ser benéfico para você, e não deixe que pessoas ou comentários depreciativos o incomodem, porque sempre, em todas as escolhas que você fizer na sua vida, em todas as decisões que você tiver de realizar no seu dia, em todos os rumos que você tomar, vai haver pessoas que lhe criticarão ou te depreciarão por isso.
 
Isso é certo e inevitável. Acostume-se. Mantenha o foco e saiba que, quando você toma decisões baseadas em opiniões de outros, por todas as consequências quem irá pagar será você e não eles, já que apenas você vive a sua vida.
 
Faça aquilo que é certo e mantenha a sua opinião. Siga o seu caminho e não deixe as críticas frearem você, mas use-as como incentivo para ter forças e concluir de maneira certa os seus objetivos. Se vivermos sempre em prol dos outros, nossa felicidade dependerá da aprovação de alguém e nunca seremos verdadeiramente felizes, pois a crítica e o conselho sempre serão formas de nostalgia fracassada de outrem que insistimos em repetir em nossas vidas.
 
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*Rui Miguel cresceu em Contagem. É formado em engenharia de rede de computadores e especialista Microsoft. Tímido e paradoxalmente extrovertido. Misterioso e intrigante, mas com um senso de humor incrivelmente inteligente e sarcástico. Em 2007, teve os primeiros sintomas do Parkinson e, depois de seis meses, o diagnóstico foi confirmado. É autor do livro “Entrando no parkinson de diversões”. Em 2017, foi nomeado comendador e profissional do ano com o blog que fala sobre “como viver a vida e não apenas sobreviver” (www.ruimiguel.com.br). Também possui um canal no YouTube em que trata do mesmo assunto.
 
(O conteúdo dos artigos publicados pelo Diário de Contagem é de responsabilidade dos respectivos autores e não expressa a opinião do jornal.)
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