Data de publicação: 13-08-2012 00:00:00

De Contagem para a guerra

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE

Foto: Arquivo Pessoal

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CLEBER SERPA, 38 anos, paulista criado em Contagem, mudou-se para os EUA em 2002 com o desejo de conhecer novos horizontes, pessoas e costumes. Deixou um emprego consolidado e bem remunerado em uma empresa de Belo Horizonte e mesmo sem dominar a Língua Inglesa, foi para a América.

Depois de conseguir a cidadania americana, Cleber entrou para as Forças Armadas em pleno momento de guerra entre EUA e Afeganistão. Para ele a distância da família foi sempre difícil, mesmo em contato com o Brasil.

Após sua experiência guerra, Cleber Serpa quer novamente mudar sua vida, quer voltar ao Brasil e formar sua própria família.

Em entrevista exclusiva, ele conta como foi o processo de adaptação em uma nova terra, os desafios de estar na linha de frente de uma guerra, o esperado retorno para Contagem e sobre os planos futuros com a noiva, que conheceu no campo de batalha.


1 - Por que se mudou para os EUA?

Ao contrário da maioria das pessoas que se mudam para o exterior, o motivo não o atrativo financeiro, mas a vontade de buscar de novos horizontes e novas culturas.

2 – Como foi a adaptação?

No início foi bem difícil, não falava nenhuma palavra em inglês e no meu primeiro emprego eu tinha contato direto com americanos. Hoje me lembro de várias situações engraçadas relacionadas às dificuldades de comunicação. Essas dificuldades me obrigaram a aprender o inglês o mais rápido possível. Fiz parte da Pastoral Social da Igreja Católica de Somerville MA, formada por brasileiros, onde fiz bons amigos e a adaptação se tornou mais tranquila.

3 - O que mais sente falta no Brasil e em Contagem?

O que realmente me faz falta é a família, principalmente, minha mãe e também os amigos. Quando você tem todo mundo perto, geralmente não percebe como a família e os amigos são importantes. Apesar da distância do Brasil, para mim, é imprescindível manter contato, sou muito ligado família.

4 – Como e por que se tornou um soldado americano?

Em 2009, eu já era legalizado nos EUA e trabalhava há seis anos em um restaurante como bartender e gerente. Tinha um excelente salário e um ótimo ambiente de trabalho, mas queria algo mais. Sou do tipo de pessoa que não se contenta em sentar no sofá e assistir as notícias do mundo, eu quero fazer parte delas! Entrar para as Forças Armadas Americana não é fácil. Seria como uma prova de concurso público no Brasil. É necessário ter ficha limpa, ser legalizado no país, ter uma ótima condição física e, é claro, passar pelos testes de matemática, inglês, redação e outras disciplinas. O teste se chama ASVAB e o candidato leva, em média, 03 horas para realizar as provas.

5 – Como foi participar da Guerra do Afeganistão?

Quando me alistei o meu maior objetivo era ir para a linha de frente no Afeganistão ou no Iraque. Não fui para matar ou por sede de vingança pelos atentados de 11 de Setembro. Queria ver de perto a realidade dessa população e também tentar entender o que leva essas pessoas a isolarem do progresso do mundo e o porquê das diferenças culturais. Queria fazer algo por eles e a Guerra me proporcionou a oportunidade de ver de perto a realidade da população afegã.

6 - Quais as maiores dificuldades em um país em guerra?

Nos EUA o mais difícil foi a adaptação, a saudade da minha família e dos meus amigos. Já no Afeganistão a nossa maior dificuldade era ganhar a confiança da população. O exército americano é visto por 85% da população como uma fonte de ajuda e proteção, mas existe uma minoria extremista religiosa que não quer que a população tenha acesso à informação ou ao mundo cristão.

7 – Você esteve na linha de frente? Teve momentos de muito medo?

Sim. Estive várias vezes em combate. Meu trabalho é infantaria, responsável por patrulhar as vilas e cidades e, algumas vezes, nós éramos surpreendidos por ataques ao chegar nesses locais. O Talibã usa a população para esconder armas, explosivos e os obrigam a cultivar a flor do Opium. Em agosto de 2010, estava em veículo do exército que foi atingindo por aproximadamente 200 quilos de explosivos em uma mina terrestre, fazendo com que o motorista e um sargento sofressem ferimentos graves. Eles tiveram que ser levados de helicóptero para Kandahar e posteriormente para os EUA. Esse atentado afetou minha coluna e até hoje é necessário que eu faça tratamento. O medo faz parte do dia-a-dia de um soldado em combate, ele é essencial, pois ele que te mantém vivo.

8 – Como foi parar na Alemanha?

O meu treinamento de infantaria foi no Estado da Georgia, nos EUA. Foram quatro meses sem contato com o mundo e o mínimo com familiares. Neste período são escolhidos soldados que se destacam para fazer parte de uma força especial de resposta imediata para o continente Europeu e Oriente Médio. Seria como um ‘plantão’ pronto para atender a esses continentes. A infantaria é conduzida com regras mais rígidas que o habitual e treinamento mais pesado.

9 - Quando retorna para Contagem?

Meu contrato com as Forças Armadas vai até 2013, até lá ainda não posso garantir retorno, porque a qualquer momento posso ser convocado e enviado para combate. Só Deus sabe quando e se voltarei de lá.

10 - Por que quer retornar?

Após um ano na Guerra minha cabeça mudou muito, minhas prioridades hoje são outras. Quero voltar a conviver com minha família e constituir a minha família em solo brasileiro. Pode parecer coisa de filme ou mesmo ironia do destino, mas depois de morar em quatro continentes e passar por tudo o que passei, conheci uma pessoa por acaso, que hoje é minha noiva, e com a qual pretendo formar minha família em breve. O melhor dessa história é que a família dela mora em Contagem (risos). Sou apaixonado por minha mãe, ela também reside em Contagem, e quero muito voltar para estar ao lado dela também.

11- Onde você conheceu sua noiva? Em que situação?

Estava na cidade de Kandahar no mesmo período que os soldados da Força Especial da Marinha (Navy Seal) estavam procurando o Bin Laden no Paquistão. Nessa época eu estava procurando um amigo de Contagem que tem o mesmo sobrenome dela. Acabei, por acaso, fazendo amizade e aos poucos fomos nos conhecendo melhor e hoje estamos noivos. Os soldados Navy Seal encontraram o Bin Laden e eu encontrei minha noiva (Risos).

12- Agora que você é um cidadão americano legalizado, isso abre portas?

Com certeza ter dupla cidadania é um fator benéfico para a vida profissional. Recentemente, recebi o certificado de trilíngue (Português, Inglês, Espanhol) pelo Departamento de Defesa dos EUA. Outra vantagem de ser um cidadão americano é que esse benefício é garantido também para os meus filhos. Mas é claro que todos serão Flamenguistas primeiro.

13 - O que mais marcou nessa grande aventura?

Desde criança eu tinha uma profunda admiração pelos pracinhas que lutaram na 2ª Guerra Mundial. Nos desfiles de 7 de Setembro, quando olhava aqueles senhores fardados, de peito estufado e olhar orgulhoso, tentava imaginar o que eles já viram e viveram. Sim, eu lutei pelos Estados Unidos, mas levei a bandeira do Brasil comigo e, hoje, sou um veterano de guerra, isso me dá um grande orgulho. Vou confessar uma coisa aqui, algumas vezes no hasteamento da bandeira americana no Afeganistão eu fechava os olhos e imaginava a do Brasil e ficava difícil conter as lágrimas. Amo muito meu Brasil e o povo brasileiro! Em breve, com a ajuda de Deus, eu estarei de volta e assim poderei de alguma forma contribuir para um país melhor.

14 - O que você poderia dizer para as pessoas que acham que tenham sonhos impossíveis?

Nos EUA eu aprendi o seguinte ditado: “Nunca queime suas pontes.” Na vida nunca podemos queimar as nossas pontes, pois a vida é feita de idas e vindas. Hoje podemos ter a chance de ajudar e amanhã outra pessoa poderá estar na posição de nos ajudar. Ande com pessoas positivas e produtivas, isso fará que você sempre esteja à procura de melhorias para sua vida. Tenha uma religião, não importa qual, mas pratique o cristianismo. Faça o mundo melhor começando por você. Sempre estude, estude e estude! Conhecimento não ocupa espaço e ninguém nunca poderá tirar isso de você. E jamais escute as pessoas que tentam falar que você jamais será um vencedor.

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