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¹Wasney de Almeida Ferreira

Eu sou pobre.
Eu sou engenheiro.
Eu sou juiz.
Eu sou bandido.
Eu sou depressivo.
Eu sou alcóolatra.
Eu sou lutador.
Eu sou... eu sou... eu sou... eu sou...

A psicologia transpessoal estuda os estados alterados de consciência, a espiritualidade e a transcendência de egoísmo, por meio de psicotrópicos, técnicas respiratórias e meditativas. Em detrimento do caráter recreativo das drogas, como o Dietilamida Ácido Lisérgico (LSD), elas foram proibidas e a psicologia teve que recorrer a outros métodos. Muitas vezes, os psicólogos transpessoais utilizam técnicas xamânicas e orientais, como a respiração e meditação, com o objetivo de facilitar a expansão da consciência. Por que a alteração da consciência é compreendida de forma pejorativa em nossa sociedade, como se o humano tivesse apenas uma forma de ser?

Quem é você? Qual seu nome? O que gosta? Qual seu sexo? Qual sua nacionalidade? Quem são seus pais? Todas essas respostas só são possíveis em detrimento de processos de identificação. Para a psicologia transpessoal, nós não somos nada do que achamos! Quando observo o céu, sou o observador e o céu a entidade observada. Quando observo minha mão, sou o observador e minha mão a entidade observada. Quando observo meu pensamento, sou o observador e meu pensamento a entidade observada. Quando observo minha personalidade, sou o observador e minha personalidade a entidade observada. Quais são as fronteiras entre o observador e a entidade observada?

Para a psicologia transpessoal, há basicamente duas grandes categorias de consciência, a hilotrópica e a holotrópica. No estado de consciência hilotrópica, o mundo é vivenciado de forma individualista. Trata-se da experiência de um eu-aqui-agora. Temos a sensação de sermos um corpo. Temos a sensação de sermos indivíduos. Temos a sensação de autonomia. Temos a sensação de sermos separados. Já no estado de consciência holotrópica, o mundo é vivenciado de forma holística. Temos a sensação de sermos totalidade. Temos a sensação de sermos interconectados. Temos a sensação de sermos árvores, animais, pessoas, Deus, etc. Enfim, sentimos que somos o vazio, que se manifesta por meio de identificações.

A alteração da consciência continuará sendo compreendida de forma pejorativa em nossa sociedade, porque seu poder transformador pode desestabilizar a ordem capitalista vigente. Tente imaginar como seria o mundo se todos nós soubéssemos, e não tivéssemos dúvidas, de que tudo e todos estamos interconectados. Qual juiz iria abusar do poder? Quem iria ser ladrão? Em minha opinião, a única solução para os problemas do mundo é, antes, promover estados alterados de consciência, onde pudéssemos ter certeza absoluta de que não somos o que julgamos ser.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)