Foto: Robson Rodrigues

¹Wasney de Almeida Ferreira

A pós-modernidade, por ter como foco a produtividade, a competitividade e o consumo, tem contribuído para a emergência de uma “sociedade psicopata”. Dia após dia, as pessoas têm sido transformadas em objetos, seja de uso ou de troca, desprovidas de quaisquer emoções e sentimentos humanos. Palavras como justiça, ética e cidadania não fazem parte do vocabulário das pessoas, que preferem termos como carros, roupas e tecnologias. Não seria o “rolezinho” uma expressão política, embora animalizada e subdesenvolvida, de jovens que discordam da maneira como temos vivido?

A psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizado por imoralidade, indiferença, perversidade, narcisismo, sadismo, manipulação e apatia. Por não sentir sentimentos superiores, como amor e compaixão, o doente age impulsivamente, transgrede regras, mente, humilha e manipula pessoas para o bem próprio. Além de julgar-se o “centro do mundo”, o psicopata percebe as pessoas como objetos, não sente culpa ou remorso, e, não raro, banaliza a desgraça alheia, por não ter empatia. Por outro lado, o doente conhece muito bem o medo, a inveja, a raiva, o ciúme, a vingança e tantas outras emoções comuns aos animais. Segundo os manuais de psicopatologia, estima-se que 1% da população geral sofra de transtorno psicopata.

A expressão política, entendida como negociação das diferenças, também está presente nos jovens, mas foi inibida pelo moralismo dos adultos desde a infância. Por isso, não se pode cobrar de jovens valores como justiça, ética e cidadania simplesmente por se desenvolverem numa “sociedade doente”. As pessoas têm sido transformadas em objetos por nascerem num contexto social onde são educadas de modo a idolatrar carros, roupas e tecnologias. Eis a sociedade psicopata que estamos construindo, onde os jovens veem as pessoas como objetos justamente por terem sido tratadas como objetos.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)