Data de publicação: 28-01-2019 20:21:00 - Última alteração: 29-01-2019 16:59:49

Funcionários da Vale Brumadinho não batiam cartão de ponto

Jornal Diário de Contagem On-Line
Ponte sobre o Rio Paraopeba, em Brumadinho

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Willian Augusto

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A população de Brumadinho foi acordada no último domingo (27) às 5h com avisos de alerta para evacuar a cidade. Funcionários relatam que a empresa não utilizava cartão de ponto para registrar a presença dos trabalhadores.

Ainda há riscos de rompimento da última barragem que restou no complexo da mina Córrego do Feijão. A população afetada está revoltada com a situação.

Com o alerta, os resgates foram interrompidos, a ponte que passa por cima do Rio Paraopeba foi fechada nos dois sentidos e os moradores da parte baixa da cidade tiveram que sair das residências.

Somente após às 13h o alerta foi retirado. A barragem de rejeitos de 25 metros de profundidade foi drenada e a pressão da contenção diminuiu. Após horas de interdição, as pessoas e veículos puderam voltar a transitar pela única ponte que dá acesso à cidade.  

Mesmo assim, vários acessos às áreas afetadas pela lama de minério estão restritos ao pessoal envolvido no resgate. Pelo rádio da Polícia Militar foi possível ouvir o comando da corporação dando ordens para restringir a entrada da imprensa.

Somente as grandes emissoras de televisão conseguem chegar aos locais por onde a lama tóxica passou devastando tudo o que tinha pela frente. Várias estradas de acesso estão fechadas e os helicópteros são os únicos capazes de ultrapassar os bloqueios.

A equipe da Contagem TV ficou mais de duas horas parada antes da ponte, sem conseguir entrar na cidade.

Nenhum trabalhador batia cartão de ponto

Um funcionário da Vale que pediu para não ser identificado relatou que nas listas de desaparecidos continham nomes de trabalhadores de folga ou de férias. “Em poucos minutos pude ver 25 nomes de colegas que não estavam trabalhando. Estavam de folga ou estão de férias, portanto, vivos”, disse.

Ele também relatou que nenhum trabalhador registrava a entrada nem a saída do trabalho, como acontece na maioria das empresas. “Ninguém batia cartão de ponto, porque as presenças eram registradas pelos supervisores das equipes de trabalho. Somente os chefes sabiam quem estava trabalhando no momento do estouro da barragem. Mas, como todos morreram, o número exato de desaparecidos ainda é desconhecido”, explicou.

Já os nomes dos trabalhadores terceirizados e fornecedores que estavam na usina eram registrados na portaria, que também foi destruída.  

Os últimos números divulgados de 291 desaparecidos e 60 mortos, 22 deles já identificados crescem na medida em que os resgates avançam.

Os dramas das famílias atingidas

Os relatos são muitos e a reclamação é geral. São histórias tristes e emocionantes. Mesmo de luto, as famílias estão revoltadas com a falta de informações por parte da mineradora Vale, que, segundo os parentes das vítimas, está deixando as famílias desesperadas.

Um casal que está desaparecido tem filhos gêmeos de dez meses; uma estagiária de 20 anos também desaparecida tinha pedido recentemente a transferência para a usina do Córrego do Feijão para ficar mais perto de casa; a mãe de um bebê de seis meses desapareceu no primeiro dia de trabalho após a licença maternidade; uma senhora contou que há cinco anos, quando o filho saiu da Vale, ele confirmou os riscos de colapso das barragens; outro funcionário disse que perdeu a maior parte dos amigos e uma prima que trabalhava na pousada atingida.

São centenas de relatos. Funcionários, ex-funcionários e familiares ouvidos não quiseram gravar entrevista nem se identificar. Todos temem represálias da Vale, que, de alguma forma, poderia prejudicá-los.

Todos relatam o medo que tinham com o possível rompimento das barragens. “Os trabalhadores eram convencidos a acreditar que a estrutura era realmente estável e segura. A Vale paga bons salários, oferece participação nos lucros e vários benefícios. Isso servia para motivar e fazer com que todos trabalhassem satisfeitos, mesmo com o alto risco, potencializado pelo setor administrativo instalado abaixo das barragens”, disse uma esposa que aguarda notícias do marido desaparecido.

Resgates e incertezas continuam

As equipes de buscas continuam procurando os desaparecidos, agora com o auxilio dos especialistas israelenses. A população também continua em busca das informações sobre parentes e amigos que estavam na área do desastre provocado pelos rejeitos da Vale.

Apesar dos números divulgados ainda serem incertos, são centenas de desaparecidos e mortos, a maioria funcionários e prestadores de serviços de empresas terceirizadas. Moradores das margens do Córrego do Feijão e hóspedes de uma pousada também foram atingidos.

Os rejeitos de minério continuam descendo rio abaixo, poluindo e matando tudo pelo caminho. O mau cheio de peixes mortos já é sentido no Rio Paraopeba, que segue em direção ao Rio São Francisco.

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