Data de publicação: 15-01-2021 17:37:00

É tudo vaidade!

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
Foto: Reprodução Internet
 
Rui Miguel*
 
O grande vilão da felicidade, hoje, é o desejo, já dizia Sidarta Gautama. É o desejo de querer sempre mais que nos faz buscar uma felicidade que nunca conseguimos alcançar. Não pela falta de empenho, esforço ou disciplina, mas, sim, porque sempre vai existir um desejo além daquela conquista. Quando você está finalizando a faculdade, o seu grande sonho é arrumar um estágio direto na sua área. Você busca, manda currículos para todos os lugares, e, em algum momento, consegue. O estágio é seu. Você fica radiante. Esse é o seu momento de felicidade, ao qual você deveria se apegar com todo afinco. O seu chefe te olha e diz que isso é banal, que o melhor ainda está por vir. Aquilo te surpreende, mas, com o passar dos meses, o trabalho começa a ficar rotineiro, e você quer mais. Você, então, é contratado pela empresa, com carteira assinada, e fica mais feliz ainda, pois aquele é o seu momento.
 
Mas, quando você já faz parte de todo o processo da empresa, percebe que pode ir além, e seu gerente o incentiva dizendo: “O melhor ainda está por vir”. Você se apega a essa esperança e cai de cabeça para conseguir um cargo melhor, como supervisor de área, gerente, diretor, vice-presidente, CEO. E quando chega a essa etapa, quase na hora de se aposentar, as pessoas dizem: “Não fique triste com a aposentadoria, o melhor ainda está por vir”.
 
Você se aposenta e fica feliz com isso. Seu tempo agora é para a sua família e você quer aproveitá-lo, mas a sua saúde já não está muito boa. Quando se dá conta, depara-se com o fim inevitável.
 
Você está agora sentado em sua poltrona em sua sala de estar, tomando um conhaque e ouvindo a risada gostosa dos seus netos lá fora brincando. Você olha para o lado e vê a sua filha conversando e pensa: “Onde eu estava quando tudo isso aconteceu? Quando a minha filha cresceu? Como pude não presenciar e acompanhar o nascimento dos meus netos?”.
 
E quando estiver em seu leito de morte, algum engraçadinho chegará para você e dirá aquela frase que você ouviu a vida inteira e buscou de todas as formas conquistá-la e entendê-la, mas que agora não faz o menor sentido: “Não se preocupe, não tenha medo. O melhor ainda está por vir”.
 
Voltando à citação de Gautama, tira a conclusão que não importa o que a mente experimente, ela geralmente reage com desejo, e ele sempre envolve insatisfação. Quando a mente experimenta algo desagradável, deseja se livrar da irritação. Quando experimenta algo agradável, deseja que o prazer permaneça e se intensifique. Desse modo, ela está sempre insatisfeita e pungente. Isso fica muito claro quando sentimos dor. Enquanto ela persiste, estamos insatisfeitos e fazemos tudo o que está ao nosso alcance para evitá-la. Mas, mesmo experimentando coisas agradáveis, nunca estamos contentes. Tememos que o prazer desapareça ou não se intensifique.
 
Se você vivenciar a tristeza sem desejar que ela desapareça, continuará sentindo-a, mas não sofrerá com isso. Com efeito, pode haver riqueza na tristeza. Se você vivenciar a alegria sem desejar que ela perdure ou se intensifique, continuará a senti-la sem perder a paz de espírito.
 
Então, condensando essa explicação: o sofrimento surge do desejo. A única forma de se livrar totalmente do sofrimento é se livrar totalmente do desejo, e a única forma de se livrar do desejo é ensinar a mente a experimentar a realidade como ela é.
 
A nossa ânsia por desejos e por satisfazê-los nos leva à ansiedade, que muitos consideram como a doença do século.
 
Então, tudo o que você fizer, faça com prazer, nunca querendo estar em outro lugar. Se você estiver no ambiente de trabalho, trabalhe com afinco sem roubar o tempo do patrão. Se estiver brincando com o seu filho, brinque. Se estiver namorando a sua esposa, namore. Se estiver lendo, leia. Se estiver brigando, brigue. Mas nunca faça nada pensando no próximo compromisso, desanimando-se com os infortúnios do que há de vir. Enquanto estiver fazendo qualquer atividade, foque nela. Sinta prazer. Esse momento nunca vai se repetir.
 
Faça isso e realmente cada minuto da sua vida terá valido a pena. Ela terá um sentido que te dará momentos de felicidade. E o que é a real felicidade? É exatamente isso: viver os momentos felizes que nos tornam tão humanos.
 
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*Rui Miguel cresceu em Contagem. É formado em engenharia de rede de computadores e especialista Microsoft. Tímido e paradoxalmente extrovertido. Misterioso e intrigante, mas com um senso de humor incrivelmente inteligente e sarcástico. Em 2007, teve os primeiros sintomas do Parkinson e, depois de seis meses, o diagnóstico foi confirmado. É autor do livro “Entrando no parkinson de diversões”. Em 2017, foi nomeado comendador e profissional do ano com o blog que fala sobre “como viver a vida e não apenas sobreviver” (www.ruimiguel.com.br). Também possui um canal no YouTube em que trata do mesmo assunto.
 
(O conteúdo dos artigos publicados pelo Diário de Contagem é de responsabilidade dos respectivos autores e não expressa a opinião do jornal.)
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