Foto: Divulgação/blogdocae
Lecy Pereira Sousa
É possível que as palavras construam um banker em mim, no intuito de resistirem. Mas resistirem a quê? Estamos todos expostos como carros populares ante o sinal vermelho, esse grande ladrão de tempo urbano.
Pode ser que as palavras temam ser esquecidas face a explosão de imagens. Tudo vai se resumindo a um poliedro de imagens. Esse é um golpe baixo. Um jeito sacana de querer dizer: escrever perdeu o charme. Escrever não entretém, não excita, não faz querer um pouco mais, não é mais aquela dose prolongada de estimulante. Mas não confundam com droga. E se confundirem, ainda cabe o sentido expandido da palavra droga.
E aos poucos, o mercado vai se apoderando de toda subjetividade literária, pasteurizando o imaginário. Da mesma forma que Mickey e Mônica ganharam status de produto de consumo. Mesmo com a tarja de “descartável”, será que veremos literatura na cama em que dormimos e sonhamos? No banheiro de nossas necessidades básicas? Nas paredes do quarto que supostamente nos protege e nos serve de asilo com as bênçãos do Estado?
Acredite se quiser, o primeiro parágrafo desse texto foi escrito há 6 meses e largado num arquivo de Word, na pasta Documentos, sem qualquer esperança de uso, como um objeto em estágio para a Lixeira. Dizer que as palavras precisam de um esconderijo reforçado para resistirem, não passa de uma ingenuidade. As palavras são mais sólidas que o sabre de luz de Luke Skywalker (ver o filme e as sequências de Jornada nas Estrelas) e mais trespassante que o raio de sol, para ficar numa linguagem sobremaneira poética.
Por fim, as palavras tentam descrever a imagem, mas a imagem não encontra palavras para se descrever. |