Data de publicação: 01-08-2014 00:00:00

Faixa de Gaza e Israel: Quem são os verdadeiros culpados pelas guerras no Oriente Médio?

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE

Foto: Agência Reuters

¹Wasney de Almeida Ferreira

110. Então, Deus dirá: Ó Jesus, filho de Maria, recordar-te de Minhas Mercês para contigo e para com tua mãe; de quando te fortaleci com o Espírito da Santidade; de quando falavas aos homens, tanto na infância, como na maturidade; de quando te ensinei o Livro, a sabedoria, a Tora e o Evangelho; de quando, com o Meu beneplácito, plasmaste de barro algo semelhante a um pássaro e, alentando-o, eis que se transformou, com o Meu beneplácito, em um pássaro vivente; de quando, com o Meu beneplácito, curaste o cego de nascença e o leproso; de quando, com o Meu beneplácito, ressuscitaste os mortos; de quando contive os israelitas, pois quando lhes apresentaste as evidências, os incrédulos, dentre eles, disseram: Isto não é mais do que pura magia! (Alcorão, 5º Surata – Al Máida).

Imagine a seguinte situação: Você e sua família vivem numa casa, onde nasceram e cresceram em harmonia com seus vizinhos cristãos, judeus e muçulmanos. De repente, você começa a perceber que, dia-após-dia, judeus chegam ao seu bairro, fugindo aterrorizados de nazistas que os perseguiam e os assassinavam na Europa. Para você e seus vizinhos, num primeiro momento, não há problemas com a imigração, já que sempre viveram em harmonia com os judeus, embora fossem minoria étnica no bairro. No entanto, as imigrações intensificam e pessoas de terras distantes, de outras culturas e línguas, chegam ao seu bairro mandando e desmandando. 

Esses povos autoritários de terras distantes, amantes da guerra e supostamente cristãos, querem que 52% do bairro sejam dados aos judeus, embora estes sejam apenas um terço da população. Vocês e seus vizinhos discordam, votam contra a divisão do bairro da forma como é imposta, já que sempre moraram ali, como uma unidade cultural árabe. Porém, mesmo assim, esses autoritários de terras distantes expulsam você e sua família da sua casa e declaram um Estado chamado Israel. Como se não bastassem, esses novatos (apoiados pelos autoritários de terras distantes) invadem outras casas palestinas e expandem seus territórios. Sem destinos, você e sua família emigram para Faixa de Gaza, enquanto outros para Cisjordânia, impossibilitando a unidade política do povo palestino. Você e seus vizinhos ficam indignados, sentem-se injustiçados por terem sido expulsos de suas casas e, desde então, a paz já não é mais a mesma.

Movimento Sionista

No final do século XIX, na Europa, os judeus desenvolveram movimentos de imigração para a Palestina, fenômeno designado historicamente por Movimento Sionista. No início do século X, Palestina, Síria, Meca e outras regiões faziam parte de um único Estado, o Império Otomano, constituído majoritariamente por árabes. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Império Otomano aliou-se ao Império Austro-húngaro e a Alemanha. Com a derrota desse bloco, o Império Otomano fragmentou-se, tornando-se colônias, em especial, da França e Inglaterra, que receberam sanção da Liga das Nações Unidas. Nesse contexto, a Carta da Liga das Nações (1922) determinava que um dos mandatos britânicos era permitir a criação de um lar para os judeus. Embora Jordânia, Iraque, Síria e Líbano tivessem alcançado suas independências ao longo dos anos, a Palestina permaneceu sobre controle britânico até 1948.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a perseguição nazista aos judeus, o movimento sionista expandiu, iniciando os primeiros conflitos entre árabes e judeus. Antes da intervenção imperialista no Oriente Médio, esses povos (constituídos por cristãos, judeus e muçulmanos) sempre viveram em paz. Portanto, os conflitos entre árabes e palestinos não são de origens religiosas, sendo este um mito disseminado no ocidente para mistificar atitudes neocoloniais.

Partilha da Palestina

A Organização das Nações Unidas (ONU), com a desculpa de ressarcir os judeus, aprovou a partilha da Palestina entre árabes e judeus, sendo que os sionistas ficaram com 52% do território, embora fossem apenas um terço da população. Nessa época, todos os países árabes membros da ONU, como Egito, Iraque, Iêmen e Arábia Saudita, votaram contra a criação do Estado de Israel. No entanto, além da criação desse novo Estado sem o aval dos povos árabes, os judeus expandiram seus territórios para regiões palestinas, como aldeias, passando a ocupar 78% do território (Plano Dalet ou Plano D - 1948).

Essa atitude demonstrou o caráter contraditório da criação de Israel, que desenvolveu verdadeiras estruturas sociais de castas entre judeus e palestinos (O Problema Demográfico). Portanto, os palestinos foram expulsos de suas terras natais, torturados e assassinados pelos israelitas, sendo que muitos migraram para Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nesse contexto, a Faixa de Gaza passou a ser administrada pelo Egito, enquanto a Cisjordânia pela Jordânia, impossibilitando a criação de um Estado Palestino.

Na Guerra dos Seis Dias (1967), os judeus “defensivamente” (apoiados especialmente pelos Estados Unidos) atacaram o Egito, a Jordânia e a Síria (apoiados por outros países árabes). Assim, os judeus ocuparam a Cisjordânia, Faixa de Gaza, as Colinas do Golã e a Península do Sinai, desrespeitando os tratados internacionais e deixando claro, para comunidade internacional, que os interesses eram geopolíticos.

Em resumo, os países imperialistas, como Estados Unidos, França e Inglaterra criaram o Estado de Israel com o objetivo de ter uma base político-militar no Oriente Médio. Essa região, além de possuir muito petróleo, matéria indispensável para o desenvolvimento do Capitalismo, é geopoliticamente importante, por estabelecer conexões entre Europa, África e Ásia. Afinal, é absolutamente irracional criar um estado judeu expulsando e desnacionalizando palestinos. Não acha?

Para criarem uma base político-militar no Oriente Médio, os imperialistas tiveram que propagar desinformações, estimular discórdias e distorcer a cultura árabe. Por isso, muitos ocidentais ao ouvirem a palavra “Islam” (que significa “paz”) imaginam “homens bombas”, muçulmanos fundamentalistas e mulheres submissas. Na verdade, o Alcorão têm profundo respeito e devoção por Jesus Cristo e as relações entre gêneros são muito mais democráticas, basta ler o Alcorão e comparar as estatísticas de crimes contra mulheres. No entanto, o preconceito foi estimulado durante a Guerra Fria, pois os israelenses estiveram sobre influência dos Estados Unidos, enquanto os Palestinos sobre apoio da União Soviética. Com o fim da União Soviética, os palestinos perderam poder, mas não se esqueceram de que foram expulsos de suas próprias terras, onde viveram por séculos. Embora o terrorismo tenha começado com os próprios judeus, ele reemergiu como forma primitiva e desesperada que os palestinos tiveram de guerrear, tendo em vista a discrepante diferença de poder bélico diante Israel, que sempre teve apoio dos Estados Unidos.

Desde que você e sua família foram expulsos de sua casa, muitos de seus vizinhos também migraram para a Faixa de Gaza, onde todos vivem encurralados pelos israelitas. Israel quer controlar tudo! Vocês criaram uma organização com o propósito de fundarem um Estado Palestino, já que foram expulsos para a criação de Israel. Você pensa: Nada mais justo do que também termos um Estado Palestino, já que existe um Estado Judeu! No entanto, nas televisões, rádios e jornais do mundo inteiro difamam a reputação de seu povo, como se vocês fossem os verdadeiros culpados pelos conflitos no Oriente Médio. Você e sua família acham isso um absurdo, porque sabem que foram expulsos de suas terras e que a xenofobia vivida pelo seu povo é exatamente a mesma que estimulou a criação do Estado de Israel.

Como pode um país supostamente democrático, como os Estados Unidos, que lutou contra o nazismo na Segunda Guerra, ter atitudes nazistas? Como você e seus vizinhos de bairro podem ser culpados, uma vez que foram expulsos, torturados e assassinados da mesma forma como foram os judeus pelos nazistas? Como você não é ingênuo em acreditar em tudo que é divulgado nos meios de comunicação de massa, sua família sabe que os túneis do Hamas são apenas entradas sem saídas... Você sabe que os Estados Unidos, França e Inglaterra já criaram uma base político-militar no Oriente Médio e que não há interesse no fim das guerras: elas fomentam o capitalismo, fazendo a economia girar. Como você e sua família são muçulmanos, todos os dias antes do nascer do sol sua filha mais nova, que teve um braço decepado numa ataque de Israel, lê para a família a 5º Surata (Al Máida) e todos clamam a Allan por justiça. Que Jesus é este que os ocidentais adoram?

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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