Data de publicação: 05-02-2014 00:00:00

O Estado Brasileiro e a Individualização de Problemas Sociais: “Vamos dar um rolezinho?”

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE

Foto: Divulgação/Internet

¹Wasney de Almeida Ferreira

O Estado brasileiro, fundamentado no positivismo do “Ordem e Progresso”, tem o péssimo hábito de transformar problemas sociais em mazelas individuais. Por não arcar com as responsabilidades que lhe cabe, seja por falta de interesse ou incompetência, culpabiliza os indivíduos por meio de mecanismos ideológicos. Afinal, quais são as funções do Estado, uma vez que suas intervenções ocorrem, na maioria das vezes, no âmbito da vida privada dos indivíduos?

Se te roubaram o celular no ponto de ônibus a culpa é sua, porque você estava distraído. Então, não use celulares em lugares vazios e fique atento aos ladrões. Se te enganaram numa loja é porque você não prestou atenção direito no contrato. Então, leia-o com mais atenção e fique atento aos golpistas. Se te estupraram numa rua escura a errada é você, porque usava roupas provocantes. Então, evite decotes, saias e lugares escuros, porque o Estado não se responsabiliza pela iluminação pública. Se jovens decidem ir ao shopping é porque são um bando de vagabundos! Então, chamem a política, assinem limiares, porque o Estado não se responsabiliza pelo lazer.

Quem nunca se sentiu culpado por ter sido roubado ou enganado? Os cidadãos não têm direitos de viverem sem serem roubados? De consumirem sem serem enganados? As mulheres não têm direitos de andarem pelas ruas sem serem violentadas? Se jovens não podem se divertir num shopping onde irão passear? No “Parque Fernão Dias”? Quem nunca se sentiu culpado por engordar? Quem nunca se sentiu culpado por não ter tempo para a família? Essa ideologia do Estado brasileiro, de culpabilizar os indivíduos, tem surtido efeitos desde a escravidão...

Finalizando, enquanto os indivíduos cuidam de suas vidas privadas, o Estado deveria responsabilizar-se e intervir no domínio público, ou seja, coletivo. Se não se responsabiliza pela segurança, saúde, educação, lazer e cultura, por esperar que os indivíduos resolvam tudo, para que serve a constituição brasileira? Fenômenos como o “rolezinho”, se bem organizados e direcionados a objetivos realistas, podem acabar com a política positivista do “manda quem tem poder e obedece quem tem juízo”.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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