Data de publicação: 17-02-2014 00:00:00

No Olho do Furacão: As manifestações, os Políticos e a Classe Alta

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE

Foto: Warlei Moreira

¹Wasney de Almeida Ferreira

Todos devem ter percebido que os motivos das manifestações e protestos foram extremamente variados, mas qual seria o olho do furacão? Alguns protestam pela redução das passagens, outros pelo fim da corrupção, outros pela melhoria da saúde, outros por reformas na educação, outros até mesmo pela liberação da maconha.

Além de serem variados os motivos, percebemos que, pelo menos no início, a maioria era estudantes e jovens, artistas, punks, geógrafos, psicólogos. Ao longo do tempo, foram inclusos professores, servidores públicos, trabalhadores das mais variadas funções, inclusive policiais civis e federais. Enfim, quem acompanha as manifestações, seja direta ou indiretamente, consegue traçar um perfil socioeconômico e educacional dos manifestantes. A maioria é de classe socioeconômica média, não é a favor a violência, possui certo grau de escolaridade e/ou informação, e é apartidário. Mas, afinal, quais seriam as causas dessas insatisfações?

Embora as manifestações sejam por motivos diversos, percebemos que a maioria dos manifestantes posiciona-se contra a estrutura política do Brasil. Em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Salvador e várias outras cidades, são emblemáticas as passeatas rumo aos órgãos públicos, como prefeituras. Portanto, ninguém tem dúvida que os políticos têm uma grande parcela de responsabilidade sobre os problemas brasileiros, mas seriam eles os únicos algozes?

Embora os “vândalos” sejam estigmatizados e excluídos por depredarem patrimônios públicos e privados, acredito que suas ações, inconscientemente, nos ajudam a perceber outros culpados. Todos devem ter percebido que, geralmente, são depredados ônibus, bancos, carros de emissoras e grandes lojas, ou seja, bens da classe alta. Por que os “vândalos” (assim como são chamados pejorativamente) não quebram igrejas, asilos e instituições não governamentais (ONGs)? Enfim, atrás desse mato tem coelho...

Na opinião de muitos, devem ser responsabilizados não unicamente os políticos, mas também a classe socioeconômica alta: grandes empresários, industriais, bancários, multinacionais, dentre outros. A classe socioeconômica alta é responsável pela concentração de renda e pela disseminação da desigualdade social no Brasil, que é uma das piores do mundo.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE) de 2011, o Coeficiente de Gini (utilizado na mensuração da desigualdade de renda) é muito inferior no Brasil (0,508). Esse indicador é interpretado da seguinte forma: quanto mais próximo de um (1), maior é a desigualdade na distribuição de renda e, quanto mais próxima de zero, (0) maior é a igualdade. Se o coeficiente brasileiro fosse um (1), isso significa que apenas uma pessoa receberia toda renda, enquanto as demais nada. Se ele fosse zero (0), isso significa que todas as pessoas receberiam exatamente a mesma renda. Para se ter noção da extrema desigualdade no Brasil (0,508), tomemos como exemplo o Japão (0,249), a Noruega (0,258) e a Suécia (0,250). Em resumo, embora o Brasil seja a sexta potência econômica mundial, a renda é concentrada nas mãos de poucas pessoas e famílias, comprometendo o desenvolvimento do país como um todo.

Desigualdades

Se quisermos verdadeiramente mudar o Brasil, precisamos diminuir essa extrema desigualdade entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. Não é mentira que a Bolsa Família, Fome Zero e outras políticas de inclusão social tenham reduzido às desigualdades desde 2005, mas essas mudanças têm sido desprezíveis. Particularmente, reconheço a boa intenção do Ex. Presidente Lula, da atual Presidenta Dilma e outros no combate a pobreza, mas infelizmente eles não mexeram no “olho do furacão”: A classe socioeconômica alta. Portanto, é preciso desenvolver políticas mais profundas, expressas em Constituição, que impeçam o enriquecimento desenfreado da classe alta.

Na França, por exemplo, os mais pobres são isentos de impostos de renda e amparados por Políticas Sociais, enquanto os mais ricos chegam a contribuir com 70%. Esse imposto advindo dos mais ricos, por sua vez, é aplicado nas classes sociais mais baixas ou em outros âmbitos que o Estado francês considera importante. Em resumo, os impostos incididos na classe média brasileira não são e não serão suficientes para promover o desenvolvimento do Brasil. Como demonstrado acima, a classe alta deveria ter maior responsabilidade e contribuição com os impostos, já que, segundo o IBGE, é 16,5 vezes mais rica que os mais pobres.

Não podemos nos esquecer de que os políticos, muitos deles julgados corruptos, trabalham em parceria com a elite brasileira, que se enriquece desenfreadamente a custas das classes média e baixa. Portanto, os culpados pelos problemas brasileiros, ora reivindicados nas ruas do Brasil, não são apenas os políticos, mas também a classe socioeconômica alta. Essa pequena parcela da população brasileira é extremamente egoísta, orgulhosa e vaidosa, mas precisa ser controlada e detida por um Estado brasileiro forte e comprometido.

Todos manifestantes devem ter percebido que a classe socioeconômica alta não está nas ruas, protestando e reivindicando, já que é contra as “badernas”. A elite brasileira, conscientemente ou não, quer manter o estado de corrupção política, escravidão e exploração das classes média e baixa, já que é favorecida. No entanto, ela precisa se conscientizar de que a redução das desigualdades sociais extremas trará benefícios na economia, na saúde, na educação e na qualidade de vida de todos brasileiros.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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