Data de publicação: 27-08-2014 00:00:00

Consumismo: Uma Doença Socialmente Aceita

Jornal Diário de Contagem On-Line

Ilustração: Divulgação

¹Wasney de Almeida Ferreira

__ Porque você está triste, Roberto Lazaroni?
__ Por que deu tudo errado! Deu tudo errado!
__ O que aconteceu?
__ Eu queria ter comprado um Lamborghini, mas acabei tendo que comprar uma Mercedes!

O ser humano está em busca do conforto. No entanto, o que é o conforto? Para quem não tem pernas, é ter uma cadeira de rodas. Para quem tem pernas, é ter transporte público. Para quem tem transporte público, é ter um carro popular. Para quem tem carro popular, é ter um carro “melhor”. Para quem tem carro “melhor”, é ter um carro importado. Enfim, os seres humanos são mestres da auto-enganação. Eles confundem necessidades com desejos. Eles criam histórias para se justificarem. Eu preciso disso... Eu preciso daquilo... Eu preciso daquilo outro... O consumismo é uma doença socialmente aceita.

O consumismo contradiz a Segunda Lei da Termodinâmica. Essa lei afirma que nem toda energia é transformada em trabalho. Por isso, partes da energia são perdidas. Em linguagem simples, nem toda gasolina movimenta o veículo. Por isso, partes da gasolina são desperdiçadas em calor, atrito, barulho etc. Os seres humanos estão doentes por transgredirem essa lei fundamental. Eles se sentem vazios e incompletos existencialmente. Eles querem preencher esses vazios consumindo. Eles trocam de carros, casas, conjugues, amigos, empregos, esportes e continuam insatisfeitos. Sabe aquela sensação de que algo está faltando?

Essa doença socialmente aceita é um problema de saúde pública. Ela é altamente contagiosa. Vazio existencial, orgulho e egoísmo são sintomas primários. Nesse estágio, necessidades e desejos são tomados como sinônimos. Esses sintomas se tornam crônicos na medida em que aumenta o padrão de vida. Desigualdades sociais, injustiças e indiferenças são sintomas avançados. Nesse estágio, a auto-enganação tornou-se extremamente elaborada. Em resumo, o consumismo é uma doença grave que compromete a vida em sociedade.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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