Data de publicação: 10-09-2014 00:00:00

Esquizofrenia e Assassinatos: O caso do cartunista Glauco

Academia Equilíbrio Funcional

Foto: Divulgação/sociedadeesquizofrenica.blogspot

¹Wasney de Almeida Ferreira

A esquizofrenia é um transtorno mental, uma psicose grave e sem cura, caracterizada especialmente por alucinações e delírios, o que compromete o senso de realidade. As alucinações são alterações na sensopercepção, como audição, visão, tato ou olfato, enquanto os delírios são narrativas idiossincráticas. Em outras palavras, o doente percebe coisas que as pessoas não percebem e, assim, cria uma história, não raro complexa e bizarra, para explicar sua experiência. Dentre as formas de esquizofrenia, destaca-se a de subtipo paranoide, onde o doente acredita, com certeza absoluta e inabalável, que está sendo perseguido, vigiado ou controlado. Esse subtipo de esquizofrenia, em relação às outras formas, tem menor comprometimento da personalidade e da inteligência. Como consequência, um esquizofrênico paranoide pode ser confundido, pela sociedade comum, com uma pessoa estranha, excêntrica ou desconfiada. Embora o esquizofrênico, na maioria das vezes, não seja assassino, as suas alucinações e delírios podem acarretar em tragédias. Vejamos alguns exemplos:

O caso de Realengo: Em 2011, um homem invadiu uma escola armado e assassinou 11 crianças e feriu 13, em Realengo, Rio de Janeiro, caso nacionalmente conhecido. Seu crime foi cuidadosamente projetado por meio de delírios: ele já havia construído vários vídeos depoimentos, escrito cartas “suicidas”, misturando terrorismo, islamismo e elementos de sua infância. Em resumo, em minha opinião, tratava-se de um esquizofrênico paranoico, que desenvolveu um delírio muito complexo e sistemático. Quanto sofrimento poderia ter sido evitado se esse individuo fosse diagnosticado e tratado desde cedo?

O caso da motosserra: Em 2014, nas proximidades de Itaguara, Minas Gerais, um homem tentou invadir uma casa de prostituição com uma motosserra. As garotas conseguiram se safar, mas um indivíduo que lá se encontrava teve um braço decepado e, ao tentar fugir, terminou de ser esquartejado. Quando foi preso, até as pessoas sem formação em saúde mental percebiam que o assassino “não batia bem da cabeça”, já que seu delírio não era tão sistemático: “Eu ia trabalhar e o povo não me pagava o que presta. O povo parece que tava me fazendo de bobo”. Esse é um exemplo clássico de delírio de perseguição! Na cabeça do doente, todo mundo está falando, rindo e debochando dele, então as pessoas comuns acham que é apenas uma pessoa desconfiada.

O caso do cartunista Glauco: Em 2010, em Osasco, São Paulo, o cartunista Glauco e seu filho foram assassinados por um indivíduo que se dizia Jesus Cristo. Tudo levava a crer que se tratava de um esquizofrênico paranoico com delírios de grandeza, que convivia com outras pessoas normais numa seita religiosa. Em 2014, dias atrás, o doente mental foi solto (já que esquizofrênicos são imputáveis), cometeu latrocínio e foi novamente preso, além de supostamente estar envolvido noutro assassinato. Nesse caso, em minha opinião, trata-se de um esquizofrênico viciado em drogas, que, segundo alguns especialistas, aproveita da doença para cometer crimes.

As tragédias cometidas por portadores de esquizofrenia, que ora outra aparecem nos meios de comunicação, são de responsabilidade do doente, da família ou da sociedade? Em minha opinião, caso não esteja surtado, o portador de esquizofrênica deve ser julgado assim como qualquer outra pessoa, já que esquizofrênicos fora de surto são semelhantes a pessoas normais. No entanto, caso o esquizofrênico esteja em surto, os principais responsáveis deveriam ser os familiares ou responsáveis, sendo tal fato julgado como abandono de incapaz. Na maioria das vezes, o esquizofrênico em surto é resultado da negligencia dos familiares e responsáveis, que não ministram remédios e não seguem tratamentos. Em outras palavras, esquizofrênicos são como portadores de necessidades especiais e precisam ser diariamente monitorados. Se você tem vizinhos esquizofrênicos que não são devidamente tratados, denuncie, pois é uma responsabilidade social de prevenção. Finalizando, as relações entre esquizofrenia e assassinato não são simples, mas o crime de abandono de incapaz deveria ser levado a sério nesses casos.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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