Data de publicação: 04-10-2014 00:00:00

O Peixe na Alimentação Escolar

Jornal Diário de Contagem On-Line

Foto: Divulgação

¹Antônio Coquito

Adivinha o quem tem no cardápio? É hora do recreio e as crianças e adolescentes correm para a alimentação escolar. O peixe é parte integrante das refeições dos 3.500 (três mil e quinhentos) estudantes da Rede Municipal de Ensino, nas escolas da cidade de Paraopeba, centro-oeste de Minas Gerais, a 98 quilômetros de Belo Horizonte.

Engana-se quem diz que é difícil ou mesmo complicado optar por um cardápio saudável e repleto de nutrientes. Rico em proteínas, o pescado tem baixo teor de gorduras. Além disso, tem grande quantidade de minerais, entre eles cálcio, fósforo, iodo e cobalto, e é também fonte das vitaminas A, D e B.

A ideia tem um caráter inovador, ao unir à alimentação dos alunos a agricultura familiar, através dos pescadores da região. A proposta foi implementada por Cristiane Ferreira de Andrade no ano de 2010. Andrade é nutricionista especialista em gestão de políticas de alimentação e nutrição. Também é monitora do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição do Escolar da Universidade Federal de Ouro Preto (CECANE/UFOP). Andrade conta, nesta matéria, os caminhos percorridos para a inserção da piscicultura no cardápio escolar.

Integrar Políticas para Alimentação Saudável

A aproximação de políticas e ações com foco na qualidade alimentar devem ser práticas dos profissionais de nutrição. Neste sentido, de sua experiência, a nutricionista Andrade destaca que “a piscicultura, a agricultura familiar e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) se integram numa estratégia sustentável de produção distribuição e consumo.”

Ao tratar a questão do alimento e a produção local, a profissional analisa que está garantido a “segurança alimentar e nutricional; bem como a garantia à alimentação adequada.” Ela acrescenta “permite ainda fortalecer o pequeno produtor, neste caso o pescador, melhorando sua renda e cumprindo a exigência da Lei 11.947/09”.

A novidade foi bem acolhida por outro parceiro ligado diretamente à vida dos estudantes paraopebenses. Trata-se do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) do município. Andrade destaca que “não houve nenhum impedimento por parte do conselho.” A compreensão de que a opção foi acertada é relatada pela nutricionista de que “o investimento na piscicultura é garantia do direito humano à alimentação adequada e do cumprimento da legislação do PNAE.”

O Caminho da Conscientização

A piscicultura na refeição dos estudantes é um caminho a ser percorrido em Minas Gerais. Andrade cita dados do Ministério da Pesca e da Companhia de Desenvolvimento dos Vale do São Francisco e do Paranaíba (Codevasf) de que o consumo per capta/ano em território mineiro é de 4kg de peixe. “A inserção do pescado na alimentação das crianças e adolescentes possibilita a formação de um hábito alimentar, até então, em decadência em nosso estado”, aponta. Ela explica que, em Paraopeba, os alunos fazem a alimentação com peixe a cada 15 dias. “Isso permite melhora no ensino aprendizagem e atende a solicitação do Ministério da Saúde”, explica. Andrade comemora “o consumo local tende a aumentar porque as crianças já vêm pedindo a seus pais para ter o alimento em casa”.

Conscientização para hábitos saudáveis é ponto básico no trabalho da nutricionista. Ao introduzir a proposta, ela desenvolveu atividades de educação nutricional. “Antes das mudanças no prato dos escolares, fizemos uma ação junto aos mesmos e à comunidade escolar, mostrando a importância do peixe na alimentação e para a saúde”, comenta Andrade. Englobando as atividades iniciais, ela conta que “as cantineiras foram orientadas, quanto ao descongelamento seguro e preparo do peixe. Dessa forma, assegurando a qualidade nutricional e sanitária”, ressalta a nutricionista. Junto destes, o assunto foi discutido de forma interdisciplinar, em sala de aula com outras matérias e conteúdos, contribuindo assim para a inovação alimentar.

Como e Por Onde Começar

Força de vontade e determinação, planejamento, definição de metas e estabelecimento de parcerias com os gestores são fatores fundamentais da experiência de Andrade. “Em Paraopeba foi uma luta de um ano, desde a procura do peixe, produção do filé, a inspeção sanitária até o consumo pelos escolares”, relembra. A nutricionista faz questão de enfatizar que “basta querer e correr atrás”. Porém, ela adverte, “a corrida ficará em vão sem planejamento e sensibilização do gestor”.

“O trabalho em equipe e alianças é sucesso garantido na execução da proposta”, garante a nutricionista para a efetivação do processo. No caso de Paraopeba, ela afirma que diversos foram os que se somaram neste projeto de alimentação saudável para a população infanto-juvenil. Andrade destaca o apoio do executivo municipal, da secretária de educação, as diretoras de escolas que aderiam à ideia, as cantineiras pelo zelo e cuidado no preparo e distribuição do pescado aos estudantes. Ela ressalta o apoio incondicional do motorista da alimentação escolar, que contribuiu no processo de busca dos pescadores.

É possível implementar a prática nos municípios mineiros. No caso dos gestores, a nutricionista sugere: 1.Planejar o orçamento, 2. Realizar teste de aceitabilidade, 3. Estabelecer per captas para reduzir gastos, 4. Orientar manipuladores de alimentos (cantineiras), 5.Realizar educação nutricional nas escolas e comunidade escolar, 6. Localizar os produtores (pescadores), 7. Realizar chamada pública e 8. Consumo pelos escolares.

¹ Jornalista, Especialista em Marketing e Comunicação com Ênfase Temáticas Sociais, Cidadania e Direitos Humanos, Políticas Públicas, Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Socioambiental

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