Data de publicação: 12-09-2013 00:00:00

Quando o silêncio fala...

Academia Equilíbrio Funcional

Foto: Divulgação/labora.blogspot

¹Luciani Dalmaschio

Para começar a defesa de nossa ideia é interessante pensar na origem da palavra “Silêncio”. De acordo com Celso Cunha, em seu Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, o vocábulo silêncio se origina da palavra latina silentium e significa interrupção de ruído, calada, estado de quem se cala.

Partindo dessas definições, podemos pressupor o motivo de o silêncio apresentar um sentido negativo de omissão, de passividade. Afinal, os caminhos de significação que essa palavra assumiu, ao longo do tempo, orientam-na para que seja percebida como a privação do dizer.

A verdade é que o silêncio, na maioria das vezes, é entendido como “um problema”. Isso mesmo, quem está em silêncio tem “um problema”. Frases como: “Você está tão calado hoje, o que foi?”, ou ainda “Não estou gostando nada desse silêncio.” São muito comuns e bastante ouvidas, no nosso cotidiano. O silêncio é, quase sempre, relegado a uma posição secundária e, além de representar o não-dizer, é motivo de preocupações.

Entretanto, o caminho de reflexão que propomos aqui é inverso a esse que nos acostumamos a percorrer. Para nós, o silêncio põe em jogo processos de significação muito mais amplos (e, por vezes, mais interessantes) que as próprias palavras. Dizemos isso porque a linguagem é feita de não-ditos, de incompletudes.

Para ilustrar nossa tese, imaginemos a seguinte cena: uma senhora chega atrasada ao trabalho e diz à amiga “Acordei tarde, levantei correndo e peguei o primeiro ônibus que passou para conseguir chegar aqui.” Ao ouvir (ler) essa afirmação, não podemos imaginar que as ações realizadas por essa senhora sejam apenas aquelas descritas em suas palavras. É possível (e esperado) que ela tenha levantado, ido ao banheiro, lavado o rosto, escovado os dentes, penteado os cabelos, trocado de roupa, colocado o sapato...enfim, há no interior do que foi dito, outros dizeres que, mesmo silenciados, podem e devem ser lidos.

Interessante é percebermos que, se até no que é dito há silêncios que precisam ser preenchidos para que nossa linguagem ganhe sentido, imaginemos, então, quando nenhuma palavra é utilizada. Nesse momento, nosso trabalho comunicativo é ainda maior, uma vez que muitas possibilidades de entendimento surgem, ou seja, a ausência de palavras traz uma ampliação do que pode ser compreendido e cabe aos usuários da língua selecionar uma dessas possibilidades para aquele processo de comunicação.

Sendo assim, dizemos em silêncio. O silêncio não é, pois, o vazio da linguagem. Ele é um instrumento do dizer. Nossas falas estão permeadas pelo silêncio. Conhecer os processos de significação que ele põe em jogo e não rotulá-lo como um problema é o nosso grande desafio.

¹ Doutora em Linguística / Professora da Nova Faculdade

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