Data de publicação: 20-09-2013 00:00:00

Somos todos especuladores

Academia Equilíbrio Funcional

Foto: Divulgação/profigestao.wordpress

¹Carlos Alberto Santiago Simplício
²Luciani Dalmaschio

A repetição de algumas palavras nas situações que normalmente acontecem em nosso dia a dia consagra um significado para aquela palavra. Afinal, cada sujeito produz sentido em um texto de acordo com sua experiência de vida. Determinado texto ou palavra, lida por leitores de diferentes experiências, poderá ter um significado de maior ou menor abrangência, em função das conexões de sentido advindas de seus pertencimentos sócio-históricos.

Explicando melhor, um texto de jornal sobre economia lido por um médico, um economista e um operário terá 3 interpretações, que embora aproximadas por se sustentarem pelas mesmas marcas textuais, produzirão efeitos distintos em função da formação discursiva a que cada um se filia. Porém, as palavras já possuem significados, bons ou ruins, impregnados na consciência coletiva, pela regularidade com que se apresentam nos discursos diários.

Um exemplo disso é a palavra “Especular”, pois em nossa sociedade esse termo tornou-se sinônimo de ato, pessoa ou instituição de má índole que tira vantagens de pobres viúvas e trabalhadores inocentes da “Terra Brasilis”. Esse monstro, o “Capitalista especulatorius”, é sempre o principal vilão e responsável por todas as mazelas que afligem esse nosso lindo país tropical. Ele é responsável pela falta de infraestrutura básica, pela má educação dada aos nossos estudantes, pelos buracos nas estradas, pelas péssimas aposentadorias pagas aos nossos velhinhos e pela dor de dente e unha encravada que assola milhões de trabalhadores que tiraram atestado médico para emendar um feriado na praia. É assim que você enxerga um especulador, não é? Será que ele é realmente o culpado?

A palavra “especular” tem o significado no português de observar, indagar, pesquisar: especular as causas. Meditar, raciocinar, fazer teoria pura: especular. Nesse sentido, todo ser humano é um especulador, pois ao nascermos observamos onde está a mãe, nosso alimento e proteção. Ao começarmos a andar, começamos a pesquisar todos os cantos da casa, tateando os móveis, sentindo a textura de tudo. Levando objetos à boca, pesquisamos os sabores e dissabores do mundo. Ao começarmos a falar, automaticamente, começamos a indagar o porquê de não podermos fazer isso ou aquilo, de onde viemos... em resumo, “especulamos”!

Em economia, o ato de especular consiste em uma aposta acerca do futuro econômico de um país, de um setor de atividade, de uma empresa ou, em uma visão mais micro, consiste na aposta em tendências de preços de bens patrimoniais. Os economistas já apontam o dedo em nossa direção e gritam “Especulador”! Somos especuladores quando escolhemos certa profissão e apostamos que, no futuro, estaremos empregados.

Especulamos quando compramos um imóvel e pagamos um preço absurdo pautados na hipótese de que aparecerá outro interessado que pagará um preço maior do que pagamos. Especulamos quando não compramos nada, não investimos, na esperança de que no futuro os preços caiam devido ao excesso de oferta. Mas para o dia a dia do brasileiro, a especulação se tornou algo bem diferente do capital de produção, que é o investimento feito diretamente em pessoas, equipamentos e outros bens, de modo que o trabalho gere valor, e o valor gere lucro. Já o capital especulativo é aquele que compra “um sistema” esperando sua valorização, e vende logo após.

Especular é antever, olhar mais longe. Qualquer um especula. Se um vendedor de refrigerante compra uma latinha por 1 real e vende por 2 reais na praia, ele está especulando que alguém irá comprar só pela conveniência de não ter que sair da areia para comprar. Quem não especula não antevê, e quem não antevê não faz nada. Portanto, é errada a noção de que especular é uma coisa má, uma coisa feia, abominável. Se hoje eu compro uma ação que acho que vai valorizar, azar de quem me vendeu. Ele que analise (especule) melhor a respeito antes de fazer negócio.

Sendo assim, o ato de especular não é nenhum ato de “maldade” dos grandes capitalistas, mas um ato diário de todo ser humano. Mas como todos os atos dos seres humanos, o excesso traz consequências graves e dosar o volume especulativo se faz necessário em toda economia saudável e essa é uma função do governo. Mas, se o próprio governo brasileiro é um grande especulador, essa fiscalização seria como um lobo tomando conta de um galinheiro para que as galinhas não fossem comidas...

¹Mestre em Economia – ISEG / Professor da Nova Faculdade
²Doutora em Linguística – UFMG / Professor da Nova Faculdade

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