Data de publicação: 27-01-2014 00:00:00

A Terceirização da Infância: “Vamos dar um rolezinho?”

Lava Jato Dias

Foto: Divulgação/ barcaf.blogspot

¹Wasney de Almeida Ferreira


_ Minha filha é “um tesouro”! É muito “valiosa”! Não responde, não reclama, não questiona, sempre me obedece e faz tudo que mando. Quando eu chego, ela já lavou os pratos, limpou a casa e está dormindo.

_ Nossa! Sua filha “vale ouro”! Já meu filho não “vale o que come”!

Os pais e as mães, em detrimento de causas diversas, têm optado pela terceirização da infância dos filhos. Eles pagam para cuidar, levar e trazer da escola. Além disso, pagam para que se divirtam ou façam esportes. As crianças que não ficam em escolas geralmente permanecem com os avós.

Tem criança que “vale muito”. Tem criança que “vale ouro”. Tem crianças que “não vale o que come”. Por que os jovens devem obedecer às ordens dos adultos?

As crianças foram transformadas em objetos de valor. Primeiro, o casal projeta e simula o protótipo. “Será menino ou menina?”. “Será educado ou respondão?”. “Quem cuidará para trabalharmos?”. Depois, o casal calcula os custos e benefícios. “O valor da frauda está um absurdo!”. “Escola particular está o ‘olho da cara’!”. “Mas, ainda bem que tem sua mãe!”. Por fim, o casal decide se terão ou não um filho. No entanto, não raro, a “linha de produção” começa antes mesmo do planejamento.

Os jovens, consciente ou inconscientemente, sabem se foram crianças desejadas ou repudiadas. Além disso, sentem-se como objetos de valor por serem cotidianamente “avaliados”.

Como suas infâncias foram terceirizadas, seus pais e mães não se sentem responsáveis. Afinal, os culpados serão sempre as cuidadoras, as professoras ou avós. Num mundo assim, quem não daria um rolezinho para relaxar?

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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