Data de publicação: 02-05-2014 00:00:00

O sentido psicológico da violência

Lava Jato Dias

Foto: Divulgação

¹Wasney de Almeida Ferreira

A violência, seja física ou psicológica, é um dos mecanismos de controle social mais antigos da humanidade. Em diferentes culturas e eras, a violência sempre esteve presente como forma de inibir comportamentos desviantes. Quando algumas pessoas agiam instintivamente, eram reprimidas pela maioria. Portanto, a sociedade não teria se formado sem a presença da violência.

A vida social requer, em partes, a abdicação do querer individual em detrimento do dever coletivo. Sem essa relação política básica, as relações sociais seriam impossíveis. Afinal, cada indivíduo faria o que quer, do jeito que quer e na hora que quer. Ao invés de sermos humanos, seriamos como animais que agem instintivamente.

Na Idade Média, comerciantes desonestos eram punidos em praça por meio da violência. Eles eram colocados em pelourinhos e recebiam vaias e “chuva” de legumes podres. Em caso mais graves, o indivíduo que transgredia as regras sociais tinha o rosto marcado. Assim, o transgressor tinha medo de cometer novos crimes, além de servir como exemplo.

Na Idade Moderna, a violência começou a ser gradativamente suplantada pela educação. Tanto os jesuítas quanto os iluministas acreditavam no poder transformador da educação. Afinal, educar as pessoas é menos traumático do que reprimi-las por meio da violência. Aliás, a violência podia até ser utilizada para manter a coesão social, mas apenas pelo Estado.

Na Idade Pós-Moderna, após a II Guerra Mundial, o monopólio do Estado sobre a violência passou a ser questionado internacionalmente. Com tantos excessos, a diplomacia passou a ser a estratégia central. Como consequência, a violência passou a ser a última estratégia. Entretanto, o que acontece em países onde a educação é desvalorizada e o Estado impedido de monopolizar a violência?

Esse problema pode ser percebido por meio das altas estatísticas de crime no Brasil. Desde a colonização, a violência sempre foi o principal mecanismo de controle social utilizado no país. A própria expressão “Ordem e Progresso” tem caráter totalitarista. Em resumo, os brasileiros seguiam as regras sociais por medo e não por educação!

Com o Processo de Redemocratização, o Estado perdeu gradativamente o monopólio sobre a violência. No entanto, como a educação não se desenvolveu, a coesão social começou a fragmentar. Para que e por que seguir as regras sociais se “não vai dá nada mesmo”? Se antes os criminosos tinham medo, hoje é a sociedade que vive reprimida.

A violência é uma característica animal que, queiramos ou não, contribuiu para a formação da sociedade. No entanto, seus efeitos colaterais demonstram como a educação é infinitamente melhor. Se o Estado não investe na educação e não monopoliza a violência, como manter a coesão social? Esse é o sentido psicológico da violência.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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