Foto: Divulgação

¹Wasney de Almeida Ferreira

Quantas vezes, na sua vida, você já ficou amargurado por não ter sido compreendido por uma pessoa? Você tenta explicar uma coisa e, por mais que tente, é incompreendido. Você tenta explicar de novo a mesma coisa, na esperança de ser compreendido, e é ignorado. Você tenta explicar mais uma vez e, depois de inúmeras tentativas, acaba sendo julgado de forma errada. Você saberia dizer, com segurança, a diferença entre o entendimento e a compreensão? Você, realmente, sabe ouvir?

Ignorante não é aquele sujeito desprovido de escolaridade, analfabeto ou desinformado, que não possui um vocabulário extenso, mas sim aquele que ignora. Se você não ouve uma pessoa atentamente, buscando se colocar no lugar dela, com a vida dela, você está sendo ignorante. Se você não presta atenção no que uma pessoa está falando, por acreditar que já entendeu tudo o que ela quis dizer, você está sendo ignorante. Se você fica pensando, racionalizando, querendo classificar, nomear e categorizar as coisas que a pessoa fala, antes mesmo de ouvi-la, você está sendo ignorante. Toda pessoa que é incompreendida se sente triste, angustiada, sozinha, julgada, rotulada, ansiosa, irritada, raivosa, estigmatizada, pois é vitima de preconceito. Você já teve essas sensações por ter sido incompreendido?

Por outro lado, quando uma pessoa é compreendida, ela se sente aliviada, feliz, amada, leve, brilhante, sorridente, saltitante, aceita, pois é reconhecida como um ser humano. Ela vivencia uma felicidade tão intensa no momento em que é compreendida que sente a vontade de abraçar o ouvinte com muito carinho e consideração. Você já teve essas sensações quando explicou algo a alguém e foi, de fato, compreendido? É por isso que em nossa língua portuguesa podemos dizer “você me entendeu superficialmente” ou “você me compreendeu profundamente”, pois cada pessoa é um poço de experiência.

Para compreender, o ouvinte precisa ficar com a mente quieta, com a boca calada, com os olhos atentos, com o ouvido focado, com o coração aberto para encontrar a outra pessoa. Você faz isso quando está se comunicado com uma pessoa? Ou você já tem explicações acerca dela antes mesmo de conversar?

Não se engane, caro leitor, ter o sistema auditivo saudável ou dominar um idioma não fará de você um bom ouvinte, mas um simples escutador de sons. Entender e compreender não são sinônimos... Ouvir e escutar não são sinônimos... Ver e enxergar não são sinônimos... Se você já se aproxima da pessoa com a cabeça cheia de julgamentos, suposições, preconceitos, estereótipos, racionalizações antecipadas, como você irá compreendê-la? É muito claro que você acabará “vomitando” nela a sua própria existência indigesta, ou seja, todo o seu passado de ignorância que não foi bem assimilado.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)