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Sebastião Alvino Colomarte*
ARTIGO – A discussão em torno da reforma do ensino médio, que se desenrola desde 1996 no âmbito da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação, não traz muita novidade, porque remete à Lei 5.652/71, cujas propostas foram retiradas ao longo dos anos. A medida proposta pelo Ministério da Educação (MEC) pretende agilizar o processo e provocar mudanças nessa etapa, que é considerada a mais crítica nas avaliações de especialistas.
Considero as propostas de mudanças positivas, mas discordo da ilustre secretária executiva do MEC, professora Maria Helena Guimarães de Castro, que, juntamente a uma equipe técnica da pasta, desenhou a reforma. Para ela, o assunto vem sendo discutido há duas décadas no Brasil, independentemente de governos e partidos, “porque o modelo em vigor é um fracasso”.
Entendo que, bem ou mal, o ensino nessa etapa no Brasil ainda consegue contribuir para a formação dos estudantes, mas é preciso acompanhar as demandas exigidas por um cenário global bastante competitivo e de um país moderno e em franco desenvolvimento.
A reformulação se faz necessária, pois é preciso revitalizar o ensino médio e deixá-lo mais atraente para os estudantes desse ciclo. Mas, no escopo dessas mudanças, é preciso criar mecanismos para que os estudantes possam se qualificar e tenham acesso ao mercado de trabalho.
Com minha experiência de mais de três décadas no Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais (CIEE/MG), entendo que nesse contexto a atividade de estágio deve ser valorizada por facilitar o acesso dos estudantes à prática profissional e permitir ao jovem oriundo desse ciclo ingressar no mercado de trabalho. Por isso, em relação ao aumento da carga horária, é preciso criar mecanismos para obter um equilíbrio entre a teoria e a prática.
Há também de se priorizar a preparação dos professores para esse novo desafio. É necessário, ainda, que as escolas tenham uma boa infraestrutura, com salas de aula e laboratórios aptos para atender às novas exigências da legislação.
Assim, a diversificação e a flexibilização do currículo necessitam andar na mesma direção. As mudanças devem ser gradativas, mas na direção certa. Nesse sentido, todas as disciplinas, sejam as que contribuem para formação técnica e as de formação humana do estudante devem ser reforçadas.
Na tentativa de atrair o interesse do aluno do ensino médio pela escola, a ideia é oferecer algo que se identifique com ele, mirando no ensino superior ou no ensino técnico. Mas é bom ter ciência de que as escolhas dos jovens são feitas conforme a condição social e de acordo com as oportunidades que possam ter ao longo da vida.
Como consequência desse modelo antigo, hoje, metade dos estudantes que ingressam no ensino médio não consegue concluí-lo. E apenas 20% chegam a um curso superior. Entendo que, mesmo com essas mudanças, as disparidades entre as escolas públicas e particulares continuarão e não devem ser solucionadas com o novo modelo, mas podem ser minimizadas.
*Professor e superintendente-executivo do Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais