Data de publicação: 05-12-2016 00:00:00

ARTIGO - Escola sem partido: o que não estamos vendo no debate

Joel de Brito - Agulhas que Curam
Foto: Divulgação
 
Rabino Samy Pinto*
 
Nos últimos meses, um forte e acalorado debate envolvendo o projeto Escola Sem Partido vem ganhando destaque no meio educacional brasileiro. Apoiadores e críticos estão apresentando seus pontos sobre o polêmico assunto em diversas discussões que, pouco a pouco, perderam o foco. E perderam devido à forma como a questão é tratada atualmente, considerando toda a problematização com uma visão política, e não científica, como deveria ser. Então, a conversa se transforma em um impasse, no qual dois polos defendem posições. Mas qual seria o cerne da questão, que é exatamente o que importa para desenvolver uma discussão saudável?
 
O primeiro passo é entender do que se trata o projeto Escola Sem Partido, firmado na figura do advogado Miguel Nagib. A proposta defende uma educação neutra, sem a interferência da posição política do professor, da instituição e muito menos do governo. Essa linha de pensamento já gera um espanto, pois não existe uma escola sem partido, a proposta e o projeto são utópicos. Ao entrar em sala de aula, o docente carrega consigo uma carga de conteúdo que, forçosamente, levará o juízo de valor do educador e sua forma de ver o mundo, podendo ocorrer um exagero por parte daquele que está lecionando, mas que é inevitável deixar do lado de fora da escola. Existe uma politização, ainda mais quando um grupo de pessoas se reúne. E esse fator deve ser levado em consideração no debate em questão.
 
O histórico da educação brasileira levou à reação que estamos vendo nos últimos anos, em que uma parte da camada social brasileira não quer que a visão de mundo da esquerda seja apresentada aos seus filhos e deseja que eles aprendam a partir de uma perspectiva liberal. E este é um assunto que não entra nas conversas sobre a Escola Sem Partido. Este é um ponto chave para se tratar. É tarefa do governo fazer isso ou não? Qual o papel da escola no século XXI? Somente ensinar as habilidades e competências de escrita, oralidade, matemática ou também cabe à escola trazer esses debates sobre política, sociologia, filosofia e religião?
 
Essas questões demandam um debate, um grupo de estudo mais afinado, que leve em consideração a realidade das salas de aula, que reproduz a própria formação do professor. Apenas colocar cartazes com os deveres do profissional é preocupante e acaba por trazer uma imagem de policiamento e desconfiança sobre os professores, causando um ambiente de desrespeito e de indisciplina em sala de aula. O que acentua a importância de uma visão cientifica, e não só política, na discussão que aborda a educação brasileira.
 
O que não se pode dizer é que a escola é neutra, quando, na verdade, ela não é. Porque os professores têm, sim, um posicionamento, possuem uma opinião política e social. A missão do professor tem que estar clara na relação com o coordenador, o diretor e na própria missão da escola.
 
Cabe ao governo dar autonomia para as escolas se posicionarem de acordo com o nicho comunitário ou ideologia. Seria uma ideia saudável para todos. Deixando claro para os pais, responsáveis e alunos qual a linha de pensamento da escola, seja liberal, direita, esquerda, cristã e, assim, possibilitar que se crie uma equipe que tenha harmonia com a devida visão. O Brasil precisa ficar mais maduro para esse debate. Respeitando as outras opiniões e buscando uma solução com bases cientificas, e não apenas pelos interesses políticos dos envolvidos.
 
*Rabino Samy Pinto é formado em Ciências Econômicas, especializado em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, possui mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). Samy Pinto é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no bairro Jardins (SP), também conhecida como sinagoga da Abolição.
 
 
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