Os moradores do bairro Retiro, em Contagem, seguem convivendo com o intenso mau cheiro proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Nova Contagem.
A situação, que há mais de 20 anos compromete a qualidade de vida local, volta a ser tema de apelos da comunidade, que relata piora na saúde e no bem-estar.
Desabafo dos moradores
Entre os relatos mais graves está o da moradora Tereza Cristina, que conta a agonia de acordar sufocada pelo mau cheiro todos os dias.
A dona de casa, que já precisou recorrer à UPA local por crises respiratórias, afirma que a mistura de odor de esgoto e produtos químicos utilizados no tratamento piora ainda mais o mau cheiro.
“É terrível. Não consigo dormir, minha respiração melhora só quando fico longe daqui. Não aguento mais acordar com falta de ar. Se tivesse condições, passaria pelo menos uma noite em um hotel, longe desse cheiro insuportável”, desabafou.
Toda a comunidade relata problemas respiratórios e sufoco com odor. Já a Copasa afirma ter adotado medidas para diminuir o odor, mas moradores rebatem que não percebem melhora.
A moradora disse que buscou ajuda da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mas não observou mudanças. Outros moradores relatam que o odor é mais perceptível nas primeiras horas da manhã, fim da tarde e início da noite, sendo agravado por ventos que dispersam o cheiro pela vizinhança.
Histórico e medidas anunciadas
O problema é antigo e já motivou encontros entre a Prefeitura de Contagem e a Copasa. Em 2021, a prefeita Marília Campos e o presidente da Copasa, Carlos Castro, discutiram ações para minimizar o impacto da estação na comunidade.
Entre as medidas apresentadas pela Copasa estavam a criação de um “Cinturão Verde” ao redor da ETE, com o plantio de árvores para canalizar os odores para cima, além de manutenções nos reatores para evitar a liberação de gases.
Na ocasião, foi sugerida a formação de uma “Rede de Percepção de Odor”, composta por moradores, para monitorar o problema. Apesar das promessas e da execução de parte das ações, como o plantio de árvores, os moradores afirmam que os problemas persistem.
Sofrimento invisível
Moradores como Fabíola de Souza Paranhos, há 27 anos na região, relatam o impacto social do problema, que vai além do desconforto físico.
“Vivemos com o preconceito de morar em um lugar fedorento. Sofremos com isso há quase 30 anos e também nos preocupamos com a saúde porque não sabemos o que estamos respirando”, disse Fabíola.
Carlos Alberto Santana, que vive há 30 anos no bairro, espera por uma solução definitiva. “A reunião de 2021 trouxe esperança, mas o problema persiste. Estamos cansados de promessas”.
ETE Nova Contagem
A estação, inaugurada em 2008, atende a uma importante demanda de tratamento de esgoto na região, mas sua operação tem gerado críticas constantes devido ao mau cheiro. A comunidade exige ações mais efetivas para mitigar os impactos e melhorar a qualidade de vida local.
Resposta da Copasa
Em nota, a Copasa informa que, para reduzir as emissões de odores nas etapas de processos de tratamento da ETE Nova Contagem, a Companhia realizou, nos últimos anos, a implantação de cinco estações de tratamento de odores na ETE.
Além disso, a empresa vem implementando uma série de medidas operacionais, que incluem a instalação de dispositivos hidráulicos para reduzir as emissões de odor, a substituição e manutenção constante de dispositivos do sistema de coleta e queima do biogás gerado no processo, a dosagem de produto químico que é responsável pela captura de gases odorantes e a implantação de área verde no entorno da ETE.
A Companhia reforça que, periodicamente, inspeções de campo e pesquisas realizadas com moradores do entorno indicam que as medidas implementadas reduziram de forma significativa as ocorrências de percepção de odor na região próxima à ETE Nova Contagem.
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