Corpos resgatados na área de mata são enfileirados na Praça São Lucas, na Penha 
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
EDITORIAL - A operação policial com 2.500 agentes no Rio de Janeiro nesta terça-feira (28/10), terminou em tragédia e reforçou a ineficácia da política de segurança pública. A ação catastrófica inverteu a percepção da sociedade sobre quem são as verdadeiras vítimas.
A ação policial que tomou conta do Rio de Janeiro nesta terça-feira (28/10) ficará marcada não pelos resultados, mas pelo desastre. A sociedade sempre foi a vitima da guerra urbana, mas a forma como aconteceu o confronto entre polícia e bandido, é no mínimo questionável.
Segundo o governo, a invasão a comunidade teve o objetivo de prender traficantes e “retomar o território”. No entanto, o que se viu foi o oposto do que se esperava de uma política de segurança pública eficiente.
A operação, além de sangrenta, mostrou-se ineficaz e contraproducente, ao reforçar o ciclo de violência que há décadas corrói o estado fluminense.
O governador Cláudio Castro (PL) e as forças policiais conseguiram o feito inédito: transformar criminosos em vítimas.
A condução da operação foi tamanha em descontrole e desumanidade que a narrativa pública se inverteu.
Isso porque tocaram os suspeitos para dentro da mata, encurralaram e abriram fogo. O resultado é uma tragédia que, além de chocar, mancha de forma triste a imagem do poder público do Rio de Janeiro.
Não é sobre defender o crime ou os agentes públicos. Trata-se de denunciar uma política de segurança baseada na barbárie, na ausência de inteligência e de humanidade.
Quando o Estado age sem estratégia e sem respeito à vida, ele perde a autoridade moral. O sangue derramado nas vielas e florestas não fortalece a segurança, mas apenas multiplica o ódio, o medo e a desconfiança.
A opinião pública, que naturalmente repudia a violência e anseia por paz, fica arrasada. Os moradores dessas comunidades, que vivem o cotidiano do fogo cruzado, sentem-se ainda mais abandonados.
E o pior: a operação não mudou nada. O território “retomado” pela polícia continua nas mãos dos mesmos criminosos, que apenas recuam e esperam o Estado ir embora.
Enquanto isso, o governo e a cúpula das forças de segurança terão de se explicar. Explicar o inexplicável. Uma operação que custou caro, tirou vidas e não trouxe resultado algum.
No fim, sobrou apenas um paradoxo cruel: o Estado que deveria proteger virou o agressor, e os bandidos, por mais paradoxal que pareça, acabaram convertidos em vítimas de um sistema que perdeu completamente o rumo.
Um tiro de ódio que saiu pela culatra e manchou a imagem do Brasil no mundo inteiro.
Robson Rodrigues
Redação
				
