Data de publicação: 05-05-2021 22:19:00 - Última alteração: 05-05-2021 22:49:30

Sociedade luta para impedir construção do Rodoanel

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE
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Moradores e ambientalistas de Contagem e da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), estão mobilizados para impedir a construção do Rodoanel, apelidado de RodoMinério. O projeto do governo do Estado pretende cortar cidades, derrubar escolas, unidades de saúde, residências e tudo que estiver no traçado. 

A alça Sul do empreendimento, considerada a principal do anel, pretende passar por cima de importantes áreas de preservação ambiental, como a Serra da Moeda e o Parque Rola Moça.

O projeto de quase dez anos foi ressuscitado, depois que o governo Zema firmou um acordo com a Vale de 37 bilhões, valor que a princípio seria usado para reparar os danos causados pelo desastre provocado pela mineradora na cidade de Brumadinho.

Seria, porque o governo do Estado decidiu desenterrar o projeto polêmico e ambientalmente desastroso, e ainda usar o dinheiro que seria para indenizar as mais de 300 familiares das vítimas soterradas no Córrego do Feijão, no projeto do “RodoMinério” que pretende beneficiar a própria Vale criando uma nova roda do minério.

A obra foi orçada em R$ 4,5 bilhões, sendo que R$ 3,5 bilhões serão custeados pela Vale e o restante será custeado com recursos vindos da cobrança de pedágios que serão instalados no anel pela futura concessionária que vai administrar a via.

Audiência pública


Deputada Estadual Beatriz Cerqueira                           
Foto: Guilherme Bergamini/ALMG         

Nesta terça-feira (04/05), uma audiência pública foi realizada a pedido da Deputada Estadual Beatriz Cerqueira (PT). O encontro contou com a participação de representantes de movimentos sociais, parlamentares de oposição e profissionais das áreas de engenharia, geologia e arquitetura, todos empenhados em discutir o assunto e apresentar os estudos técnicos necessários que não foram apresentados pelo governo do Estado.

“O governo foi convidado mas não enviou representante, mesmo tendo a obrigação de escutar a sociedade. Todos os eleitos para o legislativo e para o executivo não têm a obrigação de falar, mas sim de escutar” disse a deputada.

O deputado Duarte Bechir (PSD) foi o primeiro a falar e o único a favor do projeto. Ele disse que a obra viária trará benefícios para todos os mineiros. “Vai beneficiar todo o colar metropolitano e o tráfego na região será melhorado”, ressaltou.

Daí em diante, todos repudiaram o discurso do deputado governista que foi desautorizado por dizer que a maioria dos mineiros é a favor do projeto.

O Deputado Federal Padre João (PT), disse que o governo do Estado quer viabilizar um projeto para fazer o mal para a população. “O RodoMinério vai secar nascentes, dividir comunidades e trazer vários malefícios. Só o governo Zema poderia apresentar um projeto tão ruim como esse que pretende passar não a boiada, mas tratores em cima da sociedade”. 

Ele lamentou, que, infelizmente com a pandemia não é possível fazer manifestações nas ruas, só nas redes sociais. Com isso, as ações ficam limitadas, sem o mesmo efeito prático.

Participação de Contagem


Vereadora Moara Sabóia 

A vereadora de Contagem, Moara Sabóia (PT), disse que o atual governo municipal não vê no projeto do Rodoanel benefícios para a cidade. A parlamentar disse que a obra vai durar mais de dez anos, que é contra o traçado proposto que vai cortar pela metade Contagem e várias outras cidades.

"O RodoMinério vai passar na região de Vargem das Flores e pode impactar o fornecimento de água da RMBH. Se o problema é mobilidade, porque os recursos não são aplicados na ampliação do Metrô?”, questionou a vereadora.


Professora Adriana Souza

A professora de Contagem e integrante do Movimento SOS Vargem das Flores, Adriana Souza, ressaltou que os supostos benefícios apresentados, na realidade, não existem, principalmente porque o traçado proposto passará na Área de Proteção Ambiental - APA Vargem das Flores. 

“Depois do crime da Vale em Brumadinho, a represa de Vargem das Flores se tornou a principal fonte de abastecimento de água da RMBH. Se esse traçado for aprovado, além de prejudicar a natureza, vai segregar várias comunidades, além dos muitos equipamentos públicos que deixarão de existir. Falta a participação popular e a legitimação técnica que não levam em consideração as áreas afetadas”, enfatizou.

Adriana reclamou, ainda, que a audiência pública realizada em Contagem de forma remota, a transmissão não teve som e outras também tiveram vários problemas técnicos que impediram a participação popular, segundo ela, foi mera formalidade processual.

“A Prefeita de Contagem, Marília Campos, já deixou claro que é contra ao projeto do Rodoanel, isso porque a obra trará enormes impactos negativos para a cidade. Esse projeto é um projeto eleitoreiro que somos totalmente contra porque trará somente destruição e nenhum benefício para a região", finalizou a professora.

Não ao desastre ambiental

O Deputado Federal Rogério Corrêa (PT), disse que a real intenção do projeto do Rodoanel é escoar o minério da Vale que teve lucros bilionários mesmo durante a pandemia. “A mineradora tem isenção de impostos de circulação de mercadoria e o acordo feito entre o governo e a Vale não levou em consideração os lucros exorbitantes da empresa", explicou.


Vereadora Duda Salabert

A vereadora de Belo Horizonte, Duda Salabert (PDT) disse que a sociedade está articulada para derrubar o projeto do Rodoanel, porque estão claramente querendo usar o dinheiro de um crime ambiental para criar outro crime ambiental.

“Temos um problema viário, mas não podemos criar outro. Vivemos a maior crise sanitária dos últimos tempos, justamente por causa da relação predatória que os governos têm com o meio ambiente. O RodoMinéiro é um projeto predatório que precisamos impedir. Para isso precisamos criar uma Frente Municipal com a participação das várias cidades afetadas. Seria uma rede para lutar em defesa das águas, porque não podemos permitir nenhuma nascente a menos. Querem prejudicar a Vargem das Flores e se isso acontecer, faltará água na RMBH. Temos que nos unir em defesa das águas porque o projeto vai trazer danos ambientais incalculáveis. Todo poder emana do povo e o povo deve decidir o caminho”, disse a vereadora militante na defesa do meio ambiente.

Estudos técnicos


Engenheiro Euler Cruz

O representante do Fórum Permanente de Defesa do São Francisco, o engenheiro Euler Cruz, disse que foi muito triste ouvir de um deputado que o Rodoanel é uma vontade dos mineiros, isso, sem apresentar provas que comprovem essa afirmação.

"Conforme estudos técnicos do BDMG, a documentação apresentada pelo governo do Estado é ineficiente para fazer uma licitação. É tecnicamente e financeiramente inviável. É impensável investir bilhões no Rodoanel e não aplicar nenhum centavo no Anel Rodoviário que tem vários problemas e é responsável por mortes frequentemente”. 

Segundo o engenheiro, seria necessário ainda, criar uma lei obrigando os caminhoneiros a passarem pelo Rodoanel. Ele explicou que o Anel Rodoviário que tem 26 km, sem pedágios, seria um grande concorrente do Rodoanel que terá 100 km e com cobrança de pedágios.

“Os túneis são outro grande problema e o governo nem realizou estudos técnicos para a execução das obras. A perfuração de aquíferos, além de prejudicar os lençóis freáticos e o abastecimento hídrico, os túneis terão problemas reais de infiltrações. O grande volume de água pode colocar em risco a segurança da obra e dos futuros usuários das vias. Nenhum estudo geológico foi feito e duvido que o governador passaria nos túneis com a família dele”, enfatizou.

O engenheiro completou dizendo que vários sítios arqueológicos e históricos não foram considerados, foram descartados do projeto. “Não existe um estudo técnico nem para estimar os gastos com as desapropriações. Trata-se de um projeto feito para inglês ver”, finalizou.

Pecados capitais


Frei Gilvander Moreira                                                    Foto: Guilherme Bergamini/ALMG  

O coordenador da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, Frei Gilvander Moreira, disse que o projeto tem pelo menos “sete pecados capitais”. Entre eles, o fato de que o traçado proposto foi feito para beneficiar as mineradoras.

“Ao invés de cobrir as crateras abertas pela extração mineral, querem cobrir reservas ambientais e nascentes de água. Outro “pecado” seria usar o dinheiro do acordo com a Vale para beneficiar a própria Vale e ainda criar outros problemas ambientais e sociais para a RMBH.

Ainda segundo Frei Gilvander, o projeto tem o caráter eleitoreiro, já que as desapropriações estão previstas somente para 2023, ou seja, depois das eleições estaduais. “O governador não vai querer enfrentar esse desgaste que serão causados pelas desapropriações. Além disso, os danos para os recursos hídricos da região vai aumentar a crise de desabastecimentos que já acontece em alguns bairros”, disse.

Conclusão 

A Deputada Estadual Beatriz Cerqueira (PT), autora do requerimento que motivou a audiência pública, também lamentou a falta do debate. 

“Essa audiência tem uma importância fantástica para dizer e mostrar o que o governo não quis dizer e não quer mostrar. As informações desta audiência pública serão transformadas em requerimentos e farão parte dos trabalhos da Casa. Por meio da Assembleia Legislativa, o governo será obrigado a responder sobre esse projeto que querem nos impor”, concluiu a deputada.
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