Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
De acordo com os dados do Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022, divulgado nesta quarta-feira (25), pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), no ano passado foram registrados 376 casos de agressões a jornalistas e veículos de comunicação no Brasil.
O número de ocorrências equivale a praticamente um caso de agressão por dia. Mesmo assim, o levantamento constata que apesar de elevados, as agressões foram menores que em 2021, que foram 430 casos registrados, um recorde desde o início da série histórica feita pela federação.
Houve queda de 12,53% em 2022 em relação a 2021, mas o relatório constata que as agressões diretas a jornalistas tiveram crescimento em todas as regiões do país.
A descredibilização da imprensa foi a violência mais frequente, em 2022, mesmo tendo diminuído em 33,59% em comparação com 2021. Foram 87 casos de ataques genéricos e generalizados, que buscaram desqualificar a informação jornalística. Em 2021, foram 131 episódios.
De acordo com o relatório, houve crescimento de 133,33% nas ocorrências de ameaças, hostilizações e intimidações contra jornalistas. Foi a segunda categoria com maior número de ocorrências em 2022, com 77 casos, 44 a mais que as 33 ocorrências registradas em 2021.
A censura foi a categoria de violência com maior número de casos, em 2021, e em 2022 caiu para a terceira posição. “A queda foi de 54,96% e muito provavelmente se deu pela diminuição no número de denúncias e não dos episódios propriamente ditos, a grande maioria na Empresa Brasil de Comunicação (EBC)”, diz a Fenaj.
As agressões verbais tiveram queda de 20,69%, em comparação com o ano anterior. Mas as agressões físicas aumentaram 88,46%, passando de 26 para 49. Os impedimentos ao exercício profissional cresceram 200%: foram sete casos em 2021 e 21, em 2022.
Também tiveram crescimento significativo de 125% os ataques cibernéticos a veículos de comunicação, passando de quatro para nove episódios.
“Nos três últimos anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor responsável por 104 casos, 27,66% do total, sendo 80 episódios de descredibilização da imprensa e 24 agressões diretas a jornalistas,10 agressões verbais e 14 hostilizações”, afirmou a Fenaj.
Segundo a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, a tensão política no país explica o resultado.
“A sociedade passa nesse momento de tensionamento político a questionar as instituições estabelecidas. A imprensa é uma dessas instituições. A partir de agora, precisamos de um discurso institucional que valorize o jornalismo profissional para que a própria sociedade possa entender que, quando se agride um jornalista, se retira da sociedade o direito a informação”, enfatizou a presidenta.
Samira sugere campanhas de sensibilização, a instalação do próprio Observatório Nacional da Violência contra o Jornalista e um protocolo nacional de segurança com as forças policiais que também são agressoras da imprensa.
“A sociedade precisa voltar a compreender que o jornalismo é uma forma de conhecimento imediato da realidade por meio do trabalho dos repórteres e de todos os jornalistas”, pontuou.
De acordo com a presidenta da Fenaj, os jornalistas não devem naturalizar as agressões sofridas. Precisam procurar imediatamente os sindicatos de classe e as delegacias de polícia para denunciar os agressores. “A impunidade é um combustível para a violência contra a categoria”.
A Região Centro-Oeste continua sendo a mais violenta para os profissionais de imprensa. O Distrito Federal é o líder no número de casos, com 30,57% dos registros, o que equivale a 88 ocorrências. “Após o resultado do segundo turno da eleição presidencial, ocorreram muitas agressões a jornalistas”, disse Samira.
O relatório destaca ainda o brutal assassinato do jornalista britânico Dom Phillips, em uma emboscada, junto com o indigenista Bruno Pereira, em Atalaia do Norte, no Amazonas.
“O assassinato de Dom Phillips foi o único ataque fatal a jornalista registrado em 2022, mas a repercussão internacional mostrou ao mundo a gravidade da situação brasileira no quesito violência contra jornalistas e outros defensores dos direitos humanos”, finalizou a Fenaj.
Fonte: Agência Brasil - Rio de Janeiro