O diretor que revolucionou o teatro nos últimos 70 anos, morreu nesta quinta-feira (6), não resistindo aos ferimentos causados por queimaduras, na última terça-feira (4), quando o apartamento onde morava pegou fogo. 

 

A suspeita é que o aquecedor elétrico incendiou após um curto circuito. Zé Celso era cadeirante, o que impossibilitou a fuga. Amigos que moram no mesmo prédio também se feriram para salvá-lo. Visinhos filmaram e relataram que as chamas se propagaram rapidamente.  As causas do acidente estão sendo investigadas.

 

José Celso Martinez Corrêa, de 86 anos, estava na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas, em São Paulo, desde o acidente doméstico. Ele teve cerca de 50% do corpo queimado, ficou sedado e entubado até que o quadro de saúde agravou levando a óbito o artista.

 

 

O diretor teatral, dramaturgo, ator e criador do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa foi uma das principais figuras das artes cênicas brasileiras. O Teatro Oficina é referência nacional em inovação e pesquisa teatral. 

 

Zé Celso, como era conhecido, nasceu em 30 de março de 1937, na cidade de Araraquara, em São Paulo. Já nos anos 1950, teve contato com a linguagem teatral. Foi estudante de  Direito na USP, entre 1955 e 1960, mas não concluiu o curso, foi no período que fundou o Teatro Oficina, espaço das artes conhecido e reconhecido internacionalmente pelas provocações e liberações conceituais e estéticas.

 

O Teatro Oficina foi criado em 1958, com a movimentação de um grupo de artistas e estudantes da época. Zé Celso integrava o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP. 

 

No início dos anos 1960, o Teatro Oficina, que ocupa um prédio na rua Jaceguai, na capital paulista, passou por um processo de profissionalização que possibilitou a montagem de alguns dos principais trabalhos do grupo e de Zé Celso. Os espetáculos "O Rei da Vela", de 1967, e "Roda Vida", de 1968, continham críticas à ditadura e às opressões.

 

“O Rei da Vela", uma adaptação do texto homônimo de Oswald de Andrade, escrito nos anos 1930, foi montado pela primeira vez somente nos anos 1960, pelo Teatro Oficina, e se tornou referência para o movimento tropicalista à época.

 

Em 1974, Zé Celso foi detido pelo regime militar, teve que sair do Brasil e retornou em 1979. 

Já nos anos 1980 e 1990, outros espetáculos centrais da carreira de Zé Celso, "Ham-let", que marcou a reinauguração do Teatro Oficina, que passou por um incêndio e foi totalmente reformado 

 

Então vieram as encenações "As Bacantes", uma adaptação da obra de Eurípides, e "Cacilda!", escrita pelo próprio Zé Celso e nos anos 2000, o trabalho mais reconhecido do diretor, a adaptação de "Os Sertões", de Euclides da Cunha. A montagem circulou no Brasil entre 2002 e 2006.

 

A despedida

 

O velório de Zé Celso está sendo aberto ao público, acontece no Teatro Oficina, em São Paulo, durante a noite de hoje, até às 9h desta sexta-feira (7). Filas organizam os fãs para que todos possam entrar no teatro e se despedir do artista.