Data de publicação: 11-04-2010 00:00:00

Por que os empregados não sonham mais com uma longa carreira?

WRV Produções

Foto: www.olx.com.br

Por: Gléver Dutra*

Há algum tempo, nas consultorias que venho prestando a empresas em Minas, noto uma constante incidência de uma discussão sobre empregados que não se importam mais em serem demitidos precocemente. E não é exclusividade de empresas pequenas, onde o trabalhador teoricamente é mais exigido em função do número reduzido de funcionários. Nas corporações maiores, o problema também tem sido recorrente e vem deixando os administradores de RH com os cabelos em pé.

Visto de outro ângulo, este novo paradigma do mercado de trabalho está cada vez mais nítido. Conheço várias e várias pessoas, de diferentes regiões, idades e classes que realmente não pensam em aposentar na empresa onde estão trabalhando atualmente. E conheço muitos que não ficam mais de um ano em cada emprego. Pelo que converso com alguns gerentes de RH por aí, aquele velho conceito de “carteira suja” para os trabalhadores que vivem entrando e saindo de empregos registrados na CTPS também está em desuso. Num primeiro momento, muitas empresas têm dado preferência a estas pessoas, que têm várias experiências no currículo. No entanto, estas empresas também não conseguem segurar os aventureiros de mercado e acabam perdendo bons profissionais e tendo que recrutar outros, o que custa cada vez mais caro.

Mas o que está acontecendo com o trabalhador? Será que não existem mais empregados fiéis, que lutam pelas metas da empresa, que compartilham da sua visão estratégica? Certamente ainda existem, sim, mas também é certo que estes profissionais estão em extinção. A população economicamente ativa no Brasil é, hoje, composta por uma grande parcela de jovens, principalmente entre 18 e 29 anos. São pessoas que estão muito mais comprometidas com objetivos particulares do que com qualquer percepção coletiva, seja de trabalho ou não.

Para entendermos este comportamento, é preciso enxergar uma conjuntura que muitos administradores insistem em ignorar. O Brasil é, hoje, um país com franco crescimento do setor de serviços e, tradicionalmente, possui um imenso mercado informal. Nos últimos anos, os governos que se sucedem têm adotado políticas de “formalização” deste mercado, criando, por exemplo, a categoria de Microempresário Individual. Todas estas políticas tornam muito mais fácil para qualquer pessoa abrir um CNPJ, uma empresa. Do vendedor de cachorro quente ao pequeno executivo, todos têm as mesmas condições neste novo mercado.

Além disso, como já disse, nossa população trabalhadora hoje é formada por jovens, em grande parte solteiros, sem filhos e sem famílias para cuidar. Este descompromisso com a vida social os torna mais corajosos para deixarem um emprego onde não estejam satisfeitos. Aí, acontece essa verdadeira dança das cadeiras que vemos por aí, principalmente em supermercados, padarias, transportadoras e na construção civil.

As empresas que não querem enxergar este quadro vão continuar batendo cabeças atrás de gente qualificada – que está em falta, já que educação nunca foi prioridade no País – em vez de promoverem a qualificação que precisam. Esta atitude corporativa de qualificar os próprios funcionários demonstra o comprometimento das empresas com seus trabalhadores, demonstra a fidelidade delas para com eles.

Em síntese, o que eu quero demonstrar é que não adiantam mais eufemismos bobos, como chamar os funcionários de “associados” ou “colaboradores”. No final do dia, todos vão bater seus cartões e dependurar seus crachás. As empresas também precisam urgentemente aprender a serem fiéis a seus “colaboradores”. Precisam, cada qual em seu segmento de mercado, se adaptarem às aspirações de quem está na linha de produção. Num cenário onde quem tem apenas seis meses de experiência já é muito valorizado em função da escassez de mão de obra qualificada, não vale à pena deixar um bom profissional sair pela porta dos fundos.

Como cobrar dos funcionários uma postura ética, de fidelidade e de lealdade se em contrapartida as corporações só oferecem deveres, metas, obrigações e punições? Acho que está passando da hora de os gerentes de RH e administradores se convencerem de que seus empregados estão só esperando uma oferta melhor para deixarem para trás o pouco que ajudaram a construir em seus empregos atuais. E então, vão continuar de braços cruzados?

*Gléver Dutra é jornalista e diretor da Canal12 Comunicação.
E-mails para: redacao@diariodecontagem.com.br ou
canal12@canal12comunicacao.com.br

 

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