Foto: Divulgação/Canal Youtube Os Sobrinhos

¹Wasney de Almeida Ferreira

“E aí, como vc tá? Tô bem, e vc? Tô bem tb. Que quê vc tá arrumano? Ah, tô aí de bobera, e vc? Tô na correria. A gente tem q marca alguma coisa. Sim, a gente tem. É. É, tem que marcar. Passa lá depois. Tá, eu passo. Passa lá tb. Tá, eu passo. A gente tem q marcar. É, tem. Tchau. Tchau”.

Qualquer brasileiro que não tenha transtornos no córtex pré-frontal, região cerebral atrás da testa, responsável pelas inferências pragmáticas, sabe que essas duas pessoas não se encontrarão. Muitos diriam que isso é sinônimo de educação, polidez nos contratos sociais, mas sinceramente não se passa de hipocrisia. Para quê dizer todas essas coisas “bonitinhas” sendo que, na realidade, ambos já estão conscientes de que o encontro não ocorrerá nunca?

As chamadas redes sociais, como orkut, facebook, twitter, myspace, dentre outros têm contribuído substancialmente para o comportamento antissocial. Todo mundo diz que não tem tempo para nada, que está numa “correria danada”, mas basta entrar numa rede antissocial para encontrar o indivíduo. O que está acontecendo? Tem gente que diz que tem centenas de amigos no facebook, seguidores no twitter, como se essa palavra, “amigo”, fosse sinônimo de “conhecido”, “colega”, “pessoa da escola”.

O encontro nunca acontece por que o ser humano, enquanto um primata, não tem à capacidade de formar grupos sociais muito extensos, inclusive por razões cognitivas. Você seria capaz de memorizar a história de vida, os desejos, os medos, as conquistas, as derrotas de todos os seus supostos “amigos”? Esse cristianismo brasileiro, em querer ser falso puritano, associado às redes antissociais, contribui para a degradação das relações social.

¹Psicólogo, mestre em linguística e doutorando em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)