Data de publicação: 13-01-2015 00:00:00

De quantas vinganças Maomé necessita para descansar em paz?

Academia Equilíbrio Funcional
Foto: Divulgação
Lecy Pereira Sousa¹
O processo de formação de algumas religiões, principalmente as mais antigas, sempre se deu de forma complexa e algumas com farto derramamento de sangue. Matar ou imolar  era visto como forma de agradar a um deus específico ou torná-lo mais calmo.

Ainda no Século XXI, algumas barbaridades são praticadas nos recantos do mundo em nome do deus de comunidades e aldeias. São deuses que necessitam do sacrifício e da expiação. As palavras perdão e amor ao próximo são para os fracos. Mas a antropologia recomenda o respeito a essas tradições condenadas pelos Direitos Humanos. Cada povo com sua bizarrice em nome do deus que temem (quando deveriam amar). Quem ama seu deus não pode  temê-lo. Amor pressupõe respeito mútuo. Temer a um deus continuamente pressupõe estar sempre na condição de culpado. Culpado de quê? Só o culpado pode saber. Algumas religiões crescem em função da culpa e nunca do perdão.

O mundo contemporâneo tem proporcionado uma desconstrução de mitos como nunca se viu na história da humanidade. Mulheres afegãs reparam fotos de mulheres latinas numa praia usando biquíni fio dental (esse tipo de fio deveria ter outro nome) e pensam que uma coisa dessas não deve existir de verdade. É o demônio. Se o deus afegão proíbe terminantemente a exposição de partes do corpo feminino, como o deus dos latinos consegue ser tão liberal? Então, os latinos estão desobedecendo ao deus afegão. Qual a pena para quem desobedece a esse deus? A resposta recai sempre em vingança. O mundo ocidental sempre será o grande satã na mente de certos segmentos que se dizem islâmicos (pelo menos na mente daqueles irredutíveis).

Não cabe num texto corriqueiro como esse questionar o nível de santidade de cada civilização. O horror é também parte da herança humana nesse paraíso terrestre. O terrorismo é a forma mais rústica (insana) de tentar impor medo aos que se mostram indiferentes a chantagens religiosas. Uma das provas disso foi o recente (janeiro de 2015) atentado ao Jornal francês Charlie Hebdo por seus cartoons satíricos. Ele expôs os dois lados da face humana: o questionador e o conservador vingativo. Duas décadas antes, por escrever uma ficção (veja bem, uma ficção) onde criticava o islamismo, o escritor indiano Salman Rushdie foi condenado a morte pelo mundo islâmico e precisou viver recluso na Inglaterra. O Irã chegou a oferecer 6 milhões de dólares de recompensa para quem fizesse Rushdie comer capim pela raiz. Ao que parece, sedento por vinganças, Maomé segue esperando mais esse sacrifício em sua honra.

Sabemos que a liberdade de expressão carrega sobre si o próprio fardo. Tolher essa possibilidade humana por meio do terror ou da condenação é tomar para si um fardo duplicado. Ação provoca reação que provoca reação que provoca reação. Só o autoperdão pode interromper uma cadeia de supostas ofensas. O ofendido é que deve tomar a iniciativa do perdão. Porém, isso é inadmissível para alguns livros sagrados. O esteio de alguns deuses é a rede de vinganças. Complexo.
¹escritor, colunista
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