Data de publicação: 07-05-2007 00:00:00

Descaso com os mortos.

Centro de Integração Empresa Escola de Minas Gerais -  CIEE

Galeria de Fotos

No Cemitério Municipal da Glória, no Bairro Flamengo, em Contagem, familiares que visitam ou vão enterrar alguém se deparam com túmulos quebrados ou até mesmo abertos e pedaços de ossos espalhados pelo mato, que em alguns pontos já alcança meio metro de altura.

Várias placas de identificação foram roubadas e outras estão espalhadas pelo terreno. Flores, cruzes e enfeites são alvo constante dos vândalos. A falta de estrutura e apenas três funcionários trabalham seguindo uma escala que afeta até mesmo o andamento dos enterros. A equipe do Diário da Tarde presenciou um enterro em que a família teve que ajudar a enterrar o morto.

Alzira Almeida dos Santos, de 49 anos, mora em Betim e enterrou o filho Gleisson, em Contagem, em 2004. Ela reclama da falta de cuidado com os mortos no cemitério. “É absurdo. A gente paga imposto e encontra essa situação. Não é só porque está morto que precisa deixar para lá. A lembrança da pessoa é muito importante. Ela conta que, como visita o túmulo do filho todo mês, sempre limpa o mato e leva flores. Também dou uma gorjeta para os funcionários ficarem de olho e cuidarem da área. Decidida a não deixar os restos mortais do filho no local, ela comprou um jazigo em outro cemitério da cidade. Só estou aguardando completar cinco anos para retirá-lo. Não vou deixar ele ficar nesse estado”.

Parte do muro que cerca o cemitério está quebrado, permitindo a livre entrada e saída de pessoas. Durante a noite, vizinhos reclamam do movimento no local, onde várias pessoas consomem drogas ou vão namorar. “Tem gente que entra para roubar, jogar lixo e, como não tem ninguém olhando, fica por isso mesmo. A prefeitura abandonou esse local” , diz a dona-de-casa Maria Antônia da Costa, de 51. Sua casa fica atrás do cemitério e foi invadida pelos ratos, baratas e outros insetos.

A cabeleireira Gabriela Moreira, de 37, que mora na região, também reclama dos animais. Tenho que lacrar todo os alimentos porque senão eles ficam contaminados. Ela foi uma das primeiras pessoas a ver os ossos expostos, primeiro sobre uma laje, e depois, em uma das vias. “Não dá para saber se são ossos humanos ou de algum animal. O que não se pode é deixá-los assim. É um desrespeito”. Ela e alguns vizinhos chamaram a Polícia Militar durante a noite, mas os militares não recolheram os restos.

“Moro aqui há seis anos e percebo que as condições do cemitério estão piorando. É uma indecência o que acontece. Ratos, escorpiões e baratas invadiram o bairro todo. Mato e sujeira tomaram conta”. Ela confirma que alguns vizinhos, mesmo com a coleta de lixo e a presença de caçambas, jogam de tudo na área do cemitério. Próximo ao muro, sacos plásticos, roupas e pedaços de móveis se aglomeram formando um depósito de lixo.

Prefeitura diz que não faltam funcionários

O diretor de Serviço e Manutenção da Secretaria Municipal de Administração de Contagem, Júlio Mendes, se diz surpreso com as reclamações e denúncias sobre o cemitério da cidade. Segundo ele, os ossos são de boi e não faltam coveiros: “São três e um porteiro. Não tenho conhecimento da falta de funcionários e nem de que as famílias estão ajudando no enterro. Para vigiar a área, a secretaria já pediu o apoio da Guarda Municipal, mas aguarda resposta”.

Ontem, o mato estava sendo capinado por cerca de 15 funcionários contratados pela prefeitura. Um deles, que preferiu não se identificar, brincou que é possível encontrar até onça no local, de tão alta que a vegetação está. Mendes explica que há um calendário de limpeza nas regionais e que ele está sendo cumprido. Com a chuva, segundo ele, as plantas crescem mais e por isso chegaram nessa situação, Fizemos uma geral em novembro, para o Dia de Finados, e como está chovendo muito estava impraticável a limpeza. Agora vamos adotar um sistema mais rápido e capinar logo que crescer.

Para ele, rachaduras e arrombamentos em sepulturas é problema dos donos. De acordo com a legislação, é obrigação dos proprietários zelar por elas e não podemos fazer nenhum reparo. Eles pagam uma taxa anual de R$ 28, que segundo o secretário seria para conservação das vias e de outras áreas comuns, além de pagamento de funcionários. Mas há uma grande inadimplência. O valor pago não chega a um quarto do total que deveria ser empregado na área. Mendes não soube informar quanto é arrecadado pela prefeitura com essas taxas e nem quantas pessoas estão enterradas nesse cemitério.

Em março, o muro deve ser derrubado, para a construção de um novo. A secretaria também está convocando, desde outubro, proprietários de sepulturas e parentes de pessoas enterradas no local, para orientá-los a fazer as intervenções necessárias e completar o registro do cemitério, que está desatualizado. Contagem tem três cemitérios: Glória, Bom Jesus e São Pedro.

Fonte: Alana Roriz/DT

Obs.: As fotos exibidas na galeria acima são de agosto de 2004, sinal que o problema se arrasta a vários anos.

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