Para denunciar os ataques aos povos tradicionais de Santa Luzia e ao patrimônio ambiental da região, será realizada no sábado (3), a quarta edição da “Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela ecologia integral”.

O ato político sócio ambiental critica os impactos do Rodoanel, projeto do governo do Estado de Minas, que pretende financiar com recursos do acordo de reparação às vítimas do crime causado pelo rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale, em Brumadinho. 

Serão aplicados cerca de três bilhões de reais na obra do Rodoanel, sob o pretexto de melhoria da mobilidade metropolitana. Se a obra acontecer, treze municípios serão afetados socialmente e ambientalmente, já que cidades serão cortadas por uma via sem acessos locais, passando por cima de residências, comércios, equipamentos públicos e cemitérios quilombolas como é o caso do Quilombo de Pinhões, em Santa Luzia.


A “Ecologia integral” é um conceito que surgiu em 2015, a partir da carta encíclica Laudato Si, proposta feita pelo Papa Francisco. O pontífice chama a atenção para o cuidado da Casa Comum.

Segundo o Padre Júlio Amaral, um dos organizadores do evento e vigário episcopal da Arquidiocese de Belo Horizonte, “não é só o meio ambiente, mas é a preservação também do ser humano e de todas as formas de vida que estão presentes nesse meio ambiente”.

O projeto do Rodoanel Metropolitano, afeta diretamente a represa de Vargem das Flores, já que o traçado pretendido pelo governo do Estado, passa pelo bairro Nascentes Imperiais, em Contagem, na bacia hidrográfica que recarrega a represa que abastece parte das cidades da Região Metropolitana de Belo horizonte - RMBH.

De acordo com a integrante do Movimento SOS Vargem das Flores, Cristina Maria de Oliveira, existem alternativas mais sustentáveis e respeitosas ao meio ambiente capazes de melhorar realmente a mobilidade urbana.

“O atual Anel Rodoviário que está sucateado por falta de manutenção e de modernização, deveria ser revitalizado para suportar o fluxo dos caminhões que passam pela região metropolitana. Poderiam duplicar o Anel Rodoviário com outras pistas passando por cima das já existentes, como fizeram em Salvador, por exemplo. Melhorar e duplicar o Metrô também seria mais logico”, disse Cristina.


A romaria pela ecologia integral será até a capela Nossa Senhora do Rosário, no Quilombo de Pinhões. O território sagrado que também está ameaçado pelo traçado do Rodoanel. 

Segundo especialistas, cerca de 80 comunidades tradicionais serão diretamente ou indiretamente afetadas pelo projeto do Rodoanel. Por isso, a romaria também chama a atenção para a importância do respeito e preservação de territórios e povos tradicionais.

“O Quilombo dos Pinhões é um território antiquíssimo, que, por milhões de anos, foi ocupado por povos originários. Faz fronteira com Lagoa Santa, que é um dos primeiros vetores de povoamento do continente, onde há registros de um dos primeiros seres humanos que ocupou a América do Sul, a Luzia”, pontua o 

De acordo com o pesquisador e morador de Santa Luzia, Glaucon Durães, o Quilombo dos Pinhões é um território antiquíssimo, que, por milhões de anos, foi ocupado por povos originários.

“O território faz fronteira com Lagoa Santa, um dos primeiros vetores de povoamento do continente. Local onde “Luzia”, um dos primeiros seres humanos que ocupou a América do Sul, foi encontrado. O  território tem vínculo direto com esse processo de escravização, de colonização e da cultura afro-brasileira. A região também está ameaçada por outros empreendimentos imobiliários e pelo plano diretor do município ”, explicou Durães.

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